Seria a Geração Z a esperança para o futuro dos livros físicos e das bibliotecas?

Pesquisa revela que a maior concentração de leitores está na faixa etária mais jovem da população brasileira, entre 11 e 13 anos

Recentemente, a população soteropolitana comoveu-se com a notícia do possível fechamento de dois importantes sebos da cidade. A movimentação nas redes sociais que a informação gerou, levou muitas pessoas a se questionarem quem são esses leitores que ainda acessam os livros físicos e as bibliotecas públicas. Dados mais recentes do levantamento “Retratos da Leitura”, realizado pelo Ibope a pedido do Instituto Pró-Livro, revelam que a maior concentração de leitores está na faixa etária mais jovem da população brasileira, entre 11 e 13 anos. Dos 34 milhões de brasileiros que frequentam bibliotecas, representando aproximadamente 16% da população, os mais dedicados são os jovens com idades entre 14 e 24 anos.

Em um mundo cada vez mais digitalizado, onde o acesso à informação é mediado por dispositivos eletrônicos, surge uma questão: estaria a Geração Z, conhecida por sua afinidade com a tecnologia, destinada a ser a salvadora dos livros físicos e das bibliotecas?

Para Raissa Martins, escritora, empreendedora e fundadora da ONG Livres Livros, mais do que pensar no futuro dos livros físicos, é preciso ter em mente que o hábito de leitura é essencial para o desenvolvimento cerebral humano. Seja por meio digital ou na forma física, o importante é que os jovens leiam. No entanto, ela pondera que tudo o que é consumido em excesso pede por um respiro, uma válvula de escape.

“Acredito que os jovens estão enfrentando as consequências das pressões e cobranças que ocorrem com frequência nas redes sociais. Essa vida virtual e as dinâmicas impostas estão empurrado muitos para a vida real, em busca de espaços onde se sintam normais e aceitos. Nas livrarias e bibliotecas, encontram esse acolhimento. Seja pelo encontro com outras pessoas que estão buscando o mesmo, seja pela imersão em personagens que auxiliam significativamente no desenvolvimento do sentimento de empatia. Ao vivenciar sentimentos e situações além de suas próprias experiências, seus cérebros começam a compreender que existem outras formas de pensar, de sentir e agir”, avaliou.

Na perspectiva da escritora, é preciso de incentivo à frequência nas bibliotecas, e uma das possíveis alternativas para torná-las mais atrativas seria adaptar os espaços, tornando-os mais dinâmicos, coloridos e com janelas que permitam aos leitores apreciar a natureza e a vida do lado de fora. “Livros sozinhos nas prateleiras não fazem verão, as bibliotecas precisam oferecer espaços para criação, equipamentos de robótica, materiais de arte e pintura, para que os leitores encontrem ali um ambiente propício para criar, aprender e interagir. Além disso, é essencial contar com bibliotecas com acervos atualizados, com livros que atendam interesses diversos, a representatividade e além dos clássicos, os novos escritores que despontaram na última década”, avaliou.

Formando leitores

Foi graças ao estímulo da mãe, Carla Santana, que Maria Eduarda, de 9 anos, desenvolveu o amor pela leitura. O hábito de ler antes de dormir e a exposição a desenhos educativos foram fundamentais para que, desde os dois anos de idade, ela aprendesse o alfabeto, números e cores em inglês e português. Com o passar do tempo, esse interesse pela literatura só aumentou.

“Quando nos mudamos para a Bahia, eu tinha apenas quatro anos, e minha mãe descobriu o projeto ‘Livres Livros’ no Instagram, o qual se tornou uma fonte de esperança para nós. Através dele, conhecemos Raissa, que não apenas me inspirou como leitora, mas também se tornou uma amiga próxima. Sua generosidade em nos acolher foi incrível. O ‘Livres Livros’ é um projeto maravilhoso que me proporcionou um grande incentivo à leitura, e pelo qual sou imensamente grata”, relembrou a leitora.

Além dos livros que compões os kits literários, Duda recebe alguns mimos, incluindo poesias. “Após receber esses mimos, passei a amar a poesia, me tornei declamadora e comecei a praticar oratórias. A partir disso, minha mãe teve a ideia de gravar esses momentos e postar nas minhas redes sociais. Essa iniciativa fortaleceu ainda mais meu interesse pela poesia e pela literatura”, acrescentou Duda. Foto: Arquivo Pessoal

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