Mães de bebês prematuros são mais suscetíveis à depressão pós-parto

ONG Prematuridade.com oferece apoio psicológico online e gratuito para puérperas; todo mês, cerca de 70 famílias de bebês prematuros são acolhidas em reuniões virtuais

Há nove anos, o mês de setembro é palco de uma pauta em comum em todas as cidades do País: a saúde mental. Isso porque a Associação Brasileira de Psiquiatria, junto ao Conselho Federal de Medicina, decidiu criar uma campanha conhecida como setembro Amarelo, separando 30 dias do ano para conscientizar a população acerca de assuntos relacionados ao cuidado psicológico e prevenir o suicídio.

Na maternidade, a questão da saúde mental é atrelada a famosa depressão pós-parto. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz revela que uma em cada quatro mães de recém-nascidos no país são diagnosticadas com a doença. Ela é uma condição séria que impacta significativamente o bem-estar emocional das mães após o nascimento de seus filhos e esse cenário se agrava em mães de bebês prematuros, nascimento ocorrendo antes das 37 semanas de gestação. A prevalência da doença nessas puérperas varia de 30% a 40%, representando um risco cerca de quatro vezes maior em comparação com mães de recém-nascidos a termo.

A mãe da pequena Camila, Patrícia Anny Baptista, enfrentou uma batalha contra a depressão pós-parto. Tudo começou após ela realizar uma cirurgia bariátrica, sem saber que estava grávida, o que resultou no nascimento prematuro extremo de Camila (hoje com cinco anos). A menina nasceu com 29 semanas, 540 gramas e com 28 centímetros. “Culpava-me muito pelo fato de minha filha ter nascido nessas condições. Ficava me questionando por que não percebi que estava gestante ou por que não fiz exames antes da cirurgia. No entanto, naquela época, eu era muito leiga”, conta Patrícia.

Ela aponta que, naquele momento, além dos tratamentos psiquiátricos, o apoio da família desempenhou um papel fundamental em seu processo de recuperação. “Eles e os amigos foram de extrema importância. Tiveram pessoas que me apoiaram e me confortaram. Toda mãe que passa por essa situação aparenta ser uma fortaleza por fora, mas por dentro está emocionalmente abalada, necessitando de amor e carinho. É essencial cuidar dessas puérperas isso pode amenizar consideravelmente a depressão”, concluiu Patrícia.

Denise Suguitani, fundadora e diretora-executiva da Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros (ONG Prematuridade.com), enfatiza que o parto prematuro é um acontecimento extremamente desafiador para toda família, em especial, para as mães. “Elas, frequentemente, sentem-se impotentes, culpadas e com muitos medos, necessitando de apoio significativo da família e, não raro, de profissionais da área da saúde mental”, diz.

“Estamos lidando com uma família que recebe um bebê antes do previsto, que precisa desconstruir um cenário idealizado. A experiência da UTI Neonatal é extrema, uma montanha-russa de emoções diariamente e pode desencadear uma série de consequências negativas na saúde mental desses pais. No caso da mãe, somam-se ainda as mudanças hormonais e, muitas vezes, a exaustão física e, por isso, é fundamental que a puérpera, mãe de prematuro, seja acolhida com muito afeto pelos profissionais de saúde, e que esses estejam atentos aos sinais da depressão, para realizar o encaminhamento desta mulher a um especialista quando necessário”, ressalta.

A ONG Prematuridade.com apoia, todo mês, cerca de 70 famílias de bebês prematuros de todo Brasil. Uma das formas de ajudar pais e mães que estão passando pela jornada da prematuridade é por meio de reuniões virtuais de acolhimento, que acontecem em grupos e por meio de atendimentos individuais, com o objetivo de oferecer suporte emocional às famílias. Nesses atendimentos, são acolhidas mulheres que estão passando pelo desafiador processo do puerpério no contexto da prematuridade e que, por isso, apresentam risco maior para desenvolver depressão pós-parto. “A depressão é uma doença muito séria, potencialmente grave, e precisa ser reconhecida como tal. Nenhuma mãe deveria passar pelo puerpério sem esse olhar atento da família e dos profissionais de saúde. É importante que as mulheres saibam que existe tratamento e cura e que elas não estão sozinhas nessa caminhada”, diz Denise. Foto: Marcelo Camargo / Ag. Brasil.

Categorias: Noticias

Comentários estão fechados