Apesar do crescimento do varejo pelo terceiro mês seguido, consumidor deve priorizar pagamento de dívidas com 13º salário

Com juros no maior patamar desde 2018 e comprometimento recorde da renda, abatimento das dívidas superará gastos com consumo após pagamento da segunda parcela do 13º salário

A projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) de aumento do volume de vendas no varejo de 0,4% em outubro foi confirmada pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada hoje (08/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa foi a terceira alta mensal consecutiva. Na comparação com o mesmo mês de 2021, houve avanço de 2,7%.

A CNC revisou de 1,3% para 1,1% a expectativa de alta da variação do volume de vendas no varejo, em 2022 – o menor índice desde 2017, quando o crescimento foi de apenas 0,3%. “O cenário segue positivo para o encerramento do ano do varejo, mesmo que, em curto prazo, ainda não seja possível vislumbrar estabilidade na tendência de encarecimento do crédito”, aponta o presidente da CNC, José Roberto Tadros. Segundo ele, esse freio no crescimento também tem como causas a desaceleração do nível de ocupação no mercado de trabalho e a retomada do reajuste de preços.

Fim da deflação

Após três meses de deflação, o índice geral de preços medido pelo IPCA voltou a registrar alta, em outubro, de 0,59%. O indicador foi impulsionado pela alta de 0,79 nos preços dos alimentos e 1,22% nos itens de vestuário. Esse fator contribuiu para a desaceleração do volume de vendas no varejo (em setembro, o crescimento havia sido de 1,2%).

Dos 10 segmentos pesquisados pelo IBGE, metade teve aumento das vendas em relação a setembro, com destaque para os ramos de móveis e eletrodomésticos (em que a alta foi de 2,5%), artigos de uso pessoal e doméstico e itens de informática e comunicação (ambos com crescimento de 2%). No entanto, no acumulado de 12 meses, as três maiores quedas foram no segmento de móveis e eletrodomésticos, de 11,2%, materiais de construção, de 8,2%, e artigos de uso pessoal e doméstico, de 7,3%.

13º vai para dívidas

O pagamento do 13º salário deve totalizar R$ 251,6 bilhões. O montante é, portanto, 6,4% maior em relação aos R$ 236,4 bilhões pagos em 2021, já descontada a inflação. Isso se deve ao aumento de 13% no número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado (o que representou 1,52 milhão de novas vagas), 13,9% na quantidade de trabalhadores domésticos contratados (182 mil vagas a mais) e de 9,5% no setor público, que nomeou 115 mil.

Considerando a primeira parcela do benefício paga a 87,6 milhões de pessoas até 20 de novembro e os descontos incidentes sobre o 13º salário, a segunda parcela deve perfazer um montante de R$ 112,96 bilhões. O valor médio do benefício equivale a R$ 2.870, o que revelou estabilidade em relação aos R$ 2.868, pagos no ano passado.

Apesar da sequência mensal positiva, a segunda parcela do 13º salário deverá ter um impacto menor no varejo, neste ano. Segundo estudo da CNC, assim como no ano passado, o principal destino do adicional será o pagamento de dívidas – 38% do total, o que representa R$ 42,7 bilhões. Na sequência, estão os gastos com consumo de bens (33%), gastos com serviços (17%) e poupança (12%).

“A escalada dos juros ao consumidor e o comprometimento médio da renda familiar são as principais causas para que os consumidores utilizem o benefício para quitação ou abatimento de dívidas”, explica o economista da CNC responsável pelo estudo, Fabio Bentes. A taxa média de juros das operações com recursos livres destinados às pessoas físicas atingiu 53,65% ao ano no fim do terceiro trimestre – patamar superior ao verificado nos mesmos períodos de 2021 (41,20% a.a.) e 2020 (38,08% a.a.).

Segundo Fabio Bentes, ao contrário do último ciclo de aumento dos juros, o comprometimento médio da renda não resistiu aos impactos negativos da crise sanitária na renda agregada. “Assim, reduziu-se a capacidade de consumo por meio da elevação da parcela do rendimento médio comprometida com o endividamento a patamares inéditos, ao longo de 2022”, analisa Bentes. Cálculos da CNC apontam que, historicamente, para cada ponto percentual de comprometimento da renda, a propensão marginal a consumir cede 1,1%.

Incremento das compras em supermercados

Os segmentos mais impactados pela injeção da segunda parcela do 13º salário no varejo em 2022 devem ser os hiper e supermercados (R$ 15,55 bilhões), lojas de vestuário e calçados (R$ 10,59 bilhões) e estabelecimentos especializados na venda de utilidades domésticas (R$ 4,34 bilhões).

Para o comércio, o período de pagamento da segunda parcela do 13º representa maior aquecimento das vendas. Historicamente, dezembro tem um avanço médio de 25% nas vendas, com impacto ainda mais significativo em segmentos como vestuário e calçados (ramo que chega a apresentar avanço de 80%), livrarias e papelarias (50%) e lojas de utilidades domésticas (33%).

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