Governo quer reduzir tarifas de comércio exterior 10% ao ano, afirma Guedes

Promovido pela ICC Brasil, a 4ª edição do Encontro ‘O Brasil Quer Mais’ reúne nomes como o ministro da Economia, Paulo Guedes,
entre os dias 27 e 29 de setembro, em plataforma virtual.

“Queremos uma abertura da economia gradual, segura, mas irreversível. A hora de abrir é agora. A inflação está começando a subir, por isso este é um bom momento para começar. Vamos baixar a tarifa de comércio internacional em pelo menos em 10%, um passo inicial que seria dado esse ano. E no ano que vem, se conseguíssemos fazer a reforma tributária, baixaríamos mais 10%. Essa era a ideia inicial combinada com nossos industriais para que não haja surpresas. Estamos trabalhando com a ICC na formatação do financiamento das exportações, com as melhores práticas internacionais. Queremos que o Brasil seja uma potência verde e digital. Esse é o futuro”. As afirmações são do ministro da economia Paulo Guedes, no primeiro dia do 4º Encontro O Brasil Quer Mais – BR+, promovido pela ICC Brasil (International Chamber of Commerce), capítulo nacional da maior organização empresarial do mundo.

Sua posição foi ao encontro dos debates ao longo desta manhã, nos quais a tônica foi a necessidade urgente de o Brasil se integrar ao comércio internacional como única alternativa de crescimento. “O Brasil tinha que ter o maior fluxo de comércio do mundo e nós estamos lá atrás, somos uma das economias mais fechadas. Estou conversando com a indústria. Temos uma ferramenta, que mede o custo Brasil, que é uma mandala que construímos juntos. Eles sabem que nós já trabalhamos o suficiente para baixar os 10% este ano e vamos baixar mais 10% ano que vem”, afirmou Guedes.

Na visão de Guedes, o Brasil tem de trabalhar para se tornar o líder sulamericano da integração regional, levando o Mercosul a todo o subcontinente em um modelo de funcionamento e eficiência da União Européia, inclusive com uma moeda única regional. “O Mercosul tem de ser modernizado. A organização é a nossa plataforma de integração com a economia internacional. Mas não vamos aceitar que ele seja transformado em uma ferramenta política”, garantiu o ministro, referindo-se à recente posição da Argentina no bloco.

Já para o economista e ex-presidente do BNDES, Edmar Bacha, as exportações brasileiras deveriam ser de pelo menos 50% do PIB, em função da dinâmica da economia mundial, independentemente do momento vivido pelo País. Hoje, as exportações brasileiras representam 25% do PIB, enquanto em potências emergentes, como a Coréia do Sul, a relação é de 110%. Bacha concorda com a posição de Guedes no que diz respeito à necessidade de ampliar o Mercosul para uma zona de livre comércio envolvendo toda a América do Sul, mas enxerga na organização um impedimento para a modernização das relações comerciais internacionais do Brasil. “Ficou claro nessa tentativa recente do governo de reduzir as tarifas externas do Mercosul em uma porcaria de 10%, quando antes a tentativa era de 50%, e a Argentina não deixou”, destacou o economista. “Não dá pra deixar o grupo, inclusive por questões militares, mas temos de poder mudar nossas tarifas independente de consensos”, acredita Bacha.

De forma geral, os participantes deste primeiro dia de debates concordam que o Brasil tem um histórico de protecionismo que precisa ser urgentemente abandonado, para que o País possa desempenhar um papel de relativa importância no cenário internacional. “No passado, a maneira de industrializar o Brasil foi pela substituição da importação. Isso valeu enquanto éramos um país pobre e agrícola”, lembrou Edmar Bacha. Hoje, porém, a produtividade nacional está muito baixa porque “o Brasil está desenhado para não competir”, afirmou o fundador e conselheiro da Natura, Pedro Passos. O empresário lamenta o fato de o grupo empresarial que representa a indústria junto ao governo ter se viabilizado “lá atrás, no processo de substituição de importações. O empresariado se acostumou a olhar o para o mercado interno Só que isso mudou. Não é mais possível ter uma indústria competitiva olhando só para o mercado local” alertou Passos. “A indústria protegida tem o custo mais alto do mundo, independentemente do custo Brasil”, que muitos consideram o maior entrave para as dificuldades de comércio exterior do País.

Outro entrave significativo é o viés, também histórico, da política econômica brasileira de colocar o País na posição de atrator de investimentos. “Para ter um papel no cenário internacional o Brasil precisa investir fora de seus limites geográficos”, afirmou o conselheiro da Fundação das Nações Unidas, Fábio Barbosa. “Nos últimos anos, muitas empresas brasileiras estão se internacionalizando – como a Natura, a Vale – e é isso que está colocando o Brasil na comunidade internacional”.

Mas, na opinião de Pedro Passos, da Natura, o caminho da internacionalização não será fácil enquanto a indústria brasileira não abandonar seus hábitos protecionistas, que, ainda por cima, encarecem os produtos e serviços brasileiros não apenas no mercado externo, mas no mercado interno também. “Os lobbies de proteção são muito fortes porque eles ameaçam com a perda de empregos, o que é um falso dilema. Quando a economia cresce você aumenta o emprego”, ponderou. “O Brasil não tem inovação porque é mais fácil ir para Brasília pedir subsídio. Se não mudarmos vamos continuar a assistir esse filme de terror que está acontecendo com a indústria brasileira”.

Para a CEO da Microsoft, Tânia Cosentino, a falta de uma agenda clara está fazendo o País “andar para trás”. Em sua opinião, “precisamos trabalhar em tudo que é estrutural no Brasil, além de determinar vocação, trabalhar na marca Brasil e recuperar credibilidade”.

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