ABRH Bahia lança pesquisa sobre realidade de lideranças femininas no Estado

Levantamento aponta que 70% das mulheres em postos de comando já sofreram assédio moral e/ ou sexual em suas carreiras. 23,9% das empresas não adotam quaisquer medidas para combater questão em suas esferas organizacionais

Na esteira do Dia Internacional da Mulher, celebrado na última sexta-feira (8), a ABRH Bahia promoveu uma pesquisa com lideranças femininas para entender melhor a realidade das mulheres no mercado baiano. Entre outros pontos, o mapeamento revela que 70,2% das mulheres em postos de liderança relatam já ter enfrentado situações de assédio moral e/ ou sexual em suas carreiras.

Ainda sobre o assunto, 23,1% das mulheres consultadas afirmaram não ter vivido situações de assédio, enquanto outras 6,7% revelaram não ter certeza se foram ou não vítimas desse tipo de violência de gênero. A entidade disponibilizou um questionário, respondido por 104 profissionais entre 27 de fevereiro e 5 de março.

Esses dados poderão ajudar a aperfeiçoar a atuação da ABRH-BA. A entidade apurou ainda quais medidas estão sendo implantadas pelas empresas para combater esse problema. Quase um quarto das profissionais ouvidas, 23,9%, apontaram que as organizações não adotam quaisquer medidas para enfrentá-lo.

Por outro lado, 22,9% relataram que as empresas nas quais estão inseridas possuem programas de treinamento e conscientização contra o assédio. Outras medidas citadas foram a implementação de políticas e código de ética (19%); a realização de campanhas de sensibilização e educação contínua sobre o tema (15,2%); e a implementação de um canal de denúncias (13,3%).

Estratégias para combater o assédio

Jamile Buck e Tricia Rocha, Diretoras de Marketing e de Gestão Estratégica da ABRH Bahia, respectivamente, concordam que algumas ações são fundamentais para que empresas possam enfrentar e reverter o cenário apontado pelo levantamento. Ambas citam a implementação de políticas de compliance, bem como a realização de palestras e treinamentos sobre o tema.

Elas também destacaram a importância dessas organizações produzirem materiais educativos – a exemplo de cartilhas, e-books, e-mail marketing e cartazes – para conscientizar sobre o tema. Além disso, Jamile, que idealizou o levantamento, também avalia que a criação de oportunidades para o surgimento de lideranças femininas é fundamental.

Para isso, a especialista acredita ser primordial oferecer condições para que as mulheres disputem esses postos de destaque. Tricia, por sua vez, acrescenta que o fomento de canais seguros de denúncia são cruciais para combater o assédio dentro do ambiente coorporativo.

“O primeiro passo é adotarmos pesquisas mensuráveis através de mapeamentos, canais de denúncias nas organizações, via políticas de compliance e/ ou pelo RH para um processo de escuta do público feminino”, descreve. Para a Diretora de Gestão Estratégica da instituição, não basta só ser empático com a causa. É fundamental apresentar ações tangíveis.

Jamile ainda sugere que as empresas mostrem sua força institucional no processo de mediação das relações de trabalho. Para ela, esse processo deve acontecer através da ação conjunta de áreas distintas dentro das empresas. Assim, segurança, jurídico e comunicação, além do RH, devem contribuir para o processo.

“A função da ABRH Bahia é iluminar esse caminho, trazer luz a esse assunto que ainda é doloroso e representa muitas mulheres, que faz parte da cultura do brasileiro – e da maior parte do mundo”, opina a Diretora de Marketing.

Benefícios e perfil das participantes

A associação também identificou, por meio do levantamento, que 42,9% das profissionais consultadas relatam que as empresas em que atuam não possuem benefícios especialmente direcionados ao público feminino. Nos casos de resposta afirmativa ao questionamento, os programas de desenvolvimento profissional foram os benefícios mais mencionados (26,7%).

Em seguida foram citadas a possibilidade de flexibilidade no horário de trabalho (23,8%) e a extensão da Licença-Maternidade (21%). A equidade salarial e promoção justa foi lembrada pelas participantes na mesma frequência da conceção de creche ou auxílio creche — 20% cada. A maioria das participantes, inclusive, estão na faixa dos 35 aos 44 anos (37,5%).

Em seguida aparecem profissionais de 45 a 54 anos (30,8%) e entre 25 e 34 anos (21,2%). A maior parte delas ocupam postos de Coordenadora (26%), Gerente de Equipe (17,3%) ou se designaram como empreendedoras ou proprietárias (16,3%). Grande parte das lideranças ouvidas trabalham na capital baiana (67,3%) — enquanto 12,5% atuam na Região Metropolitana e outras 20,2% no interior.

Desafios femininos

Questionadas sobre o principal desafio que atravessaram — ou observaram outras mulheres enfrentarem – ao buscar cargos de liderança, a maioria (34,6%) relatou observar resistência à aceitação de liderança feminina. A ausência de mentorias, ou rede de apoio específicas para mulheres foi apontada por 24% das participantes.

Na terceira posição aparecem as dificuldades em conciliar trabalho e família (23,1%), seguida pela discriminação de gênero em si (13,5%). Ainda segundo a pesquisa, 51% avaliam que a percepção de desigualdade salarial entre homens e mulheres em cargos de liderança é frequente. Outros 31,7% disseram notar discrepâncias nesse sentido algumas vezes.

Apenas 9,6% relatam que nunca notarem diferenças nesse sentido. Já ao serem indagadas sobre como descreveriam suas jornadas como mulher em um cargo de liderança, a resposta mais comum foi “Desafiadora, mas com conquistas significativas” (60,6%). A percepção quanto a uma mudança significativa na representação de mulheres em cargos de liderança nos últimos anos foi mista.

A maioria identificou, nesse sentido, “alguma melhoria, mas ainda insatisfatória” (55,8%). Concomitantemente, 41,3% acreditam que a melhora foi significativa. Por fim, a ABRH-BA perguntou como a visibilidade e reconhecimento do trabalho feminino em postos de liderança têm influenciado as oportunidades de carreira.

A maioria das participantes, 48,6%, respondeu que embora tenham alcançado “algum reconhecimento”, ainda identificam desafios no processo de progressão. Já 19% das entrevistadas disseram que sentem que sua visibilidade é limitada, impactando suas oportunidades.

Enquanto isso, 17,1% acreditam que ganharam mais visibilidade e reconhecimento — o que as impulsionou. Por fim, 15,2% disseram não perceber correlação entre visibilidade e progressão na carreira.

Orientação para o mercado

A Diretora de Marketing da ABRH, Jamile Buck, conta que a iniciativa de aplicar o questionário surgiu da necessidade de mostrar ao mercado o quanto a mulher tem ganhado espaço — principalmente em postos de liderança —, bem como os maiores desafios que elas enfrentam.

Jamile avalia que, com a divulgação do levantamento, a associação cumpre seu papel de produzir e oferecer informações relevantes e confiáveis. “A ABRH Bahia é uma associação que sempre traz conteúdo relevante através dos seus eventos, buscando orientar o mercado, através de exemplos e cases de sucesso, sobre diversos assuntos relevantes para o mercado de RH”, explica.

Já Tricia Rocha, Diretora de Gestão Estratégica da ABRH-BA, avalia que os indicadores registrados pelo mapeamento retratam o crescimento e ascensão do papel da mulher no ambiente de trabalho. Ao mesmo tempo, também aponta para a necessidade de ampliar o debate sobre dinâmicas que ainda persistem dentro do ambiente coorporativo.

“Com esta pesquisa, nós da ABRH Bahia podemos fomentar encontros com discussões, ser uma rede de apoio”, opina. Nesse sentido, a entidade realiza no próximo dia 19 (terça-feira) mais uma edição do Fórum de Liderança Feminina (LIFE). O evento promove uma imersão em histórias de liderança feminina, além de painéis interativos, em um ambiente ideal para construção de networking.

O Life é voltado para profissionais de RH, estudantes e interessados no tema da promoção da liderança feminina. Foto: Arquivo /Ag. Brasil

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