Etarismo: pessoas 50+ precisam driblar preconceito no ingresso ou recolocação no mercado de trabalho; mulheres são as que mais sofrem

O que deveria significar acúmulo de experiência, maior sagacidade para contornar desafios e mais assertividade devido ao número de vezes em que a atividade foi concluída de forma adequada, também pode ser um problema para alguns empregadores. A questão é que, ao contrário do que deveria, quanto maior a idade do empregado, menor é o interesse de algumas empresas em absorvê-lo. O chamado ‘etarismo’, ou discriminação em razão da idade, além de ser crime, também pode causar problemas financeiros e psicológicos por parte de quem sofre esse tipo de preconceito.

De acordo com informações da plataforma de vagas Infojobs, 57% dos profissionais já sofreram preconceito por causa da idade. Quando se trata das mulheres, a realidade é ainda mais preocupante. Segundo o indicador da EY Brasil e a Maturi, maior empresa brasileira focada em recolocação e desenvolvimento profissional dos 50+, uma em cada quatro mulheres com mais de 50 anos que estão sem emprego passam por essa situação. Para homens, a estatística é de 13%.

Depressão e ansiedade são alguns dos principais transtornos que envolvem as vítimas do etarismo. “Negar a alguém, em plena capacidade de exercer tarefa ou trabalho no qual tem larga experiência, de desenvolver tal papel, contribui para que o indivíduo passe a desconfiar ou desacreditar das suas capacidades e, a longo prazo, pode se tornar algo limitante, desestimulante e desencadear desordens de natureza física e mental”, afirma a médica do trabalho, Ana Paula Teixeira.

Estudiosa do campo da Saúde Mental e do Bem-Estar, Ana Paula conta que essa questão se agrava ainda mais quando a pessoa com mais idade é a provedora de família – quem sustenta os demais ou, muitas vezes, é a única pessoa que trabalha no lar, uma realidade no nosso país. “Ora, uma pessoa leva a vida toda para estar pronta para a competitividade natural que existe no mercado de trabalho. Alguns se formam, buscam aprimorar conhecimentos, se especializam, permanecem longos períodos na mesma empresa para mostrar crescimento, melhor desempenho e produtividade; e, surpreendentemente, a mesma pessoa se vê desempregada – justamente quando a empresa poderia usar a seu favor todas as habilidades e potencialidades conquistadas pelo trabalhador, até então”, detalha.

A situação não é boa para nenhum dos lados. Para Ana Paula Teixeira, perde o trabalhador, pois se encontra sem fonte de renda e em uma idade que dificulta sua recolocação em razão do preconceito. Mas, também, perde o empregador que precisa renovar o quadro, treinar novas pessoas e ensinar do zero tudo que alguém já tinha ciência. “Com isso, não digo que o ciclo não deve ser renovado. Novas contratações de pessoas jovens precisam ocorrer. Mas, ambos são necessários e podem beber do conhecimento um do outro”, explica.

O grande problema do etarismo é que ele não pode ser medido claramente. Em uma entrevista, em que impera a subjetividade, fica difícil saber o real motivo da não aptidão para determinada vaga. Por isso, a especialista faz algumas alertas e dá dicas em busca de um melhor aproveitamento das habilidades para os que têm mais idade se mantenham firmes e em campo neste jogo.

Confira algumas dicas para driblar o etarismo:

– Mantenha seu networking ativo

– Atualize suas habilidades

– Aceite ofertas de trabalho temporário ou freelancer

– Atente-se às vagas afirmativas

– Considere setores em crescimento

– Foque nas habilidades necessárias para a vaga

– Se ainda estiver na empresa ou conseguir novo trabalho, estimule a conscientização sobre o etarismo. Ganhe aliados!

– Se houver abertura, promova o debate sobre planos de carreira na empresa

– Busque carreiras transversais

– Crie programas de consultoria ou mentoria

– Evite colocar tempo de formação ou anos de experiência no currículo; foque nos processos e resultados alcançados com seu trabalho

– Se for empresário, mantenha investimentos em cursos de capacitação e treinamento.
Foto: Acervo pessoal

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