Endividamento aumenta entre os mais pobres

Inadimplência atinge maior nível desde novembro de 2022

O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (incluindo cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado, prestação de carro e de casa) permaneceu estável em setembro, mantendo-se em 77,4% das famílias no país. Esse número, conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), representa o volume de endividados mais baixo desde junho de 2022, indicando uma tendência de estabilidade. O índice é apurado mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) desde 2010.

Entretanto, ao analisar as faixas de renda, observou-se um aumento no volume de endividados entre os consumidores de renda mais baixa. Este incremento foi de 0,3 pontos percentuais em relação a setembro de 2022 entre as famílias que recebem até três salários mínimos, apontando para desafios persistentes nesse segmento. É importante ressaltar que essas famílias terão seus CPFs desnegativados a partir deste mês, no âmbito do programa “Desenrola”.

O endividamento por si só não é sinônimo de um problema financeiro, a não ser que esteja atrelado à inadimplência, que também está em alta na faixa de renda mais baixa, com 38,6% desses consumidores admitindo ter dívidas atrasadas. Esse valor representa aumento de 0,7 p.p. no mês (e o mesmo percentual de setembro do ano passado), e é o nível mais alto desde novembro de 2022. Além disso, 18,3% desses consumidores afirmam não ter condições de pagar suas dívidas de meses anteriores – o maior da série histórica desse indicador.

Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a estabilidade geral no endividamento das famílias no Brasil é importante para a construção de um cenário econômico favorável. “No entanto, preocupa o aumento do índice nas faixas de renda mais baixa e, inclusive, com tendência de aumento da inadimplência dessas famílias”, afirma Tadros. Para ele, os desafios persistem especialmente em relação aos juros elevados do cartão de crédito, principal modalidade de endividamento do brasileiro, imprescindível para o comércio e os serviços.

“Uma pesquisa inédita da CNC revelou que 90% do varejo tem suas receitas provenientes de compras parceladas sem juros no cartão de crédito, pelo menos parcialmente, o que evidencia também a inclusão das pessoas de renda média e baixa no mercado de consumo”, aponta Tadros. O presidente da CNC reforça a necessidade de que seja mantido o parcelamento sem juros, sem intervenção nas condições de mercado, além da racionalização da taxa de juros do rotativo.

Aumenta dívida no cartão de crédito

O cartão de crédito continua sendo a modalidade de dívida predominante, representando 86,2% do total de endividados – o aumento em relação a setembro de 2022 foi de 0,6 p.p. No entanto, os juros do rotativo do cartão atingiram níveis alarmantes, com uma média de 445,7% ao ano, a maior alta entre todas as modalidades de dívida Os dados do Banco Central mostram um aumento na concessão de crédito no cartão em relação a agosto de 2022, com um crescimento de 10% nos pagamentos à vista e 28% no parcelado.

Entre os consumidores de renda média e baixa, o endividamento no cartão de crédito avançou 0,3 p.p. em relação a setembro de 2022, enquanto caiu 0,3 p.p. entre a alta renda. “No mês, no entanto, o uso do cartão implicou na alta do volume de endividados em todos os grupos de rendimento” analisa Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela Peic.

Também no ano, esse tipo de pagamento cresceu 1,5 p.p. entre os homens, enquanto diminuiu 0,5 p.p. entre as mulheres. “Elas, por sua vez, afirmam optar por dívidas no consignado, uma modalidade com taxas de juros mais baixas, e buscando alternativas fora das linhas de crédito tradicionais”, aponta Ferreira.

A Peic demonstrou que tanto homens como mulheres registraram queda no endividamento anual, de 2,3 p.p. e 1,8 p.p., respectivamente. Já no mês, enquanto a proporção de homens endividados diminui ligeiramente (0,1 p.p.), a das mulheres seguiu estável, em 79,1%. Em termos de dificuldades em quitar dívidas, um número ligeiramente maior de mulheres (30,6%) relata enfrentar problemas em relação aos homens (29,6%). Foto: José Cruz / Ag. Brasil

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