Nordeste: heterossexuais são maioria em novos casos de AIDS

Dados apontam predominância de casos entre os homens e mulheres héteros desde 1998

Entre 1990 e 2021, 93.039 casos de Aids foram registrados somente na região Nordeste. Deste total, a maioria é de homens e mulheres heterossexuais, que tiveram 63.404 casos observados. Já entre os homossexuais o total de casos foi de 20.139, enquanto entre bissexuais de 9.496.

Apesar dos homossexuais carregarem o estigma de portadores e transmissores do vírus causador da Aids, desde 1998 a quantidade de casos identificados é mais presente na população heterossexual.

Os dados coletados e analisados pela Agência Tatu são do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. A série histórica analisada vai de 1990 a 2021 e engloba heterossexuais, homossexuais e bissexuais de ambos os gêneros.

Homens no Nordeste

Entre os homens, os heterossexuais passaram a ser a maior parte da população afetada a partir de 1998, quando 628 casos foram registrados entre homens héteros. Neste mesmo ano, o registro de homossexuais diagnosticados com Aids foi de 483. Já entre os bissexuais, foram 405 homens que tiveram o diagnóstico.

A quantidade de casos anuais se tornou ainda mais expressiva em 2005, quando os heterossexuais tiveram 1.033 casos registrados em todo Nordeste. Naquele ano, entre os homossexuais e bissexuais, foram registrados 500 e 343 casos, respectivamente. Os registros seguiram em queda até 2010, quando voltou a subir entre os homens homossexuais.

Ao longo da série histórica foram 29.282 casos de Aids identificados em homens heterossexuais, 19.668 em homossexuais, e 9.314 em bissexuais.

Mulheres no Nordeste

Entre as mulheres foi observada uma incidência muito maior quanto à evolução de casos confirmados entre heterossexuais. Em 1998, por exemplo, foram 808 diagnósticos de Aids em héteros e somente um caso em mulher homossexual.

Já em 2005, 1.425 casos foram identificados em héteros e apenas cinco casos em homossexuais. Ainda segundo os dados analisados, em 2013 as mulheres apresentaram 2.033 casos, registrando o maior pico de pessoas com Aids entre ambos os gêneros em todo o período analisado.

Ao longo dos 32 anos de análise, foram registrados 34.122 casos em mulheres heterossexuais, 471 em homossexuais e somente 182 em bissexuais.

Para o infectologista, Reneé Oliveira, a probabilidade de infecção entre as mulheres homossexuais é menor devido ao tipo de prática sexual que realizam. Ele ainda informa que não há tanto contato direto com áreas que possam ser contaminadas ou contaminadoras nas relações homossexuais entre mulheres.

“A transmissão dentro de um casal heterossexual é grande, já que em uma relação sexual entre um homem e uma mulher, a mulher está mais desprotegida. A vagina da mulher tem uma uma área de mucosa muito maior, mais fácil de pegar o vírus e há um contato mais direto de órgão genital com órgão genital”, afirma.

Transmissão, acompanhamento e diagnóstico do HIV

O vírus HIV pode ser transmitido através de relações sexuais (vaginal, anal ou oral) desprotegidas; sem uso de preservativo. Além do contato sexual, também há risco de transmissão por compartilhamento de objetos perfurocortantes contaminados e de mãe para filho durante parto ou amamentação.

O acompanhamento correto somado ao diagnóstico precoce da HIV podem atrasar o vírus e fazer com que sequer seja desenvolvida a Aids. Ter HIV não significa ter Aids, já que a adesão ao tratamento pode tornar o portador indetectável para o vírus, o que cortará a transmissão.

De acordo com o Ministério da Saúde, a melhor técnica de evitar a Aids / HIV é a pretensão combinada, que consiste no uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção. Entre eles o uso da camisinha em todas as relações sexuais, o uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrPEP) e também o uso da Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que deve ser ministrada em até 72 horas após chance de contaminação acidental por quaisquer um dos meios possíveis.

De acordo com o médico infectologista, Reneé Oliveira, as pessoas infectadas precisam ser identificadas e, a partir da identificação, é dada entrada no tratamento.

“Com a identificação, esse paciente vai fazer os exames iniciais para avaliar como é que anda a imunidade, que são o CD4 e CD8, para ver se ele tem uma carga viral grande ou não para começar a medicação”, relata.

Oliveira reforça sobre a finalidade do tratamento, já que o HIV ainda não possui cura. “Nós temos dois objetivos, o primeiro é pessoal, para que aquele paciente consiga controlar o vírus e fazer com que ele não progrida para uma imunodeficiência grave. E a outra é do ponto de vista da sociedade porque hoje nós sabemos que aquele paciente que toma seu medicamento direitinho terá uma carga viral indetectável, ou seja, não vai estar transmitindo o vírus”, finaliza o médico infectologista.(Ag. Tatu)

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