Que 2022 seja o ano da mulher*

Terminamos hoje mais um Mês da Mulher. Ao longo de quatro semanas, nos dedicamos a diversas ações pelo empoderamento feminino e contra uma série de atentados aos direitos conquistados por nós na história recente. São lamentáveis os casos de machismo e violação à dignidade da mulher que presenciamos nas últimas semanas, todavia, nunca resistimos tanto: mostramos que estamos unidas e dispostas a fazer de 2022 o ano da mulher, e sem dúvida galgaremos vários degraus rumo à tão almejada equidade de gênero.

No último dia 12, realizamos na Câmara de Salvador a primeira edição do Prêmio Mulher Notável, que homenageou dezenas de mulheres com histórias de luta por direitos e contra o machismo em diferentes segmentos profissionais e sociais. O evento sintetizou a essência do Mês da Mulher, reforçando laços de sororidade, busca por empoderamento e valorização de trajetórias femininas. Como destaquei na ocasião, há em mim um sentimento de profunda realização e alegria. Conseguimos construir um projeto que mostra à Bahia e ao Brasil a importância da atuação feminina, que muitas vezes é ofuscada ou menosprezada pela mentalidade machista e pela estrutura patriarcal da nossa sociedade.

Uma das mensagens do Prêmio Mulher Notável é dizer que todas as mulheres brasileiras são merecedoras dos direitos que busca, de homenagens e enaltecimento, de modo a encorajá-las para continuarem firmes no protagonismo de suas histórias.

Também alertei para o apagamento e a invisibilização sofridos pelas mulheres, tanto ao longo da história quanto nos tempos atuais. Várias mulheres foram pioneiras em diversos âmbitos, nas ciências e nas artes, mas a maioria foi desacreditada, tiveram suas ideias roubadas ou simplesmente foram esquecidas pela história, essencialmente machista. Escritoras, como Maria Firmina dos Reis, uma das mais importantes do século XIX, só agora veio a ser resgatada das areias do tempo. Outras tantas mulheres aguerridas e empoderadas foram fundamentais para grandes mudanças no curso da história, mas poucas são lembradas, como Maria Felipa, Maria Quitéria e Joana Angélica, três heroínas da Independência da Bahia.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que a psicóloga Valeska Zanello foi vítima de plágio por um estudante, que utilizou ideias dela em um texto científico sem lhe dar o crédito. Querem roubar até nossas ideias. Isso sempre foi muito comum. Quantas mulheres tiveram de trabalhar duro, dedicar suas vidas para que homens levassem o crédito? Quantas vezes fomos ofuscadas?

Apesar disso, conquistamos muitos avanços nos últimos anos. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o empreendedorismo feminino apresentou recuperação no ano passado. Porém, outros dados evidenciam a persistência de ataques sexistas e casos de violência. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), após retroceder para 8,6 milhões, no segundo trimestre de 2020, o número de mulheres dirigindo um negócio no país fechou o quarto trimestre em 10,1 milhões, voltando ao nível pré-pandemia.

No início da pandemia, lamentamos a triste realidade em que as mulheres estiveram entre as mais prejudicadas pelas medidas restritivas. Agora, pesquisas mostram que essas empreendedoras conseguiram recuperar quase tudo o que perderam, unicamente devido à nossa luta, união e resistência. É louvável e animador, pois mostra que não fraquejamos diante de tantas condições adversas. Para que isso se fortaleça, políticas públicas são essenciais.
Se políticas públicas de proteção perdem espaço, o machismo imediatamente ocupa esse espaço vago. Falar em proteger e amparar a mulher é falar em proteger a vida humana. Portanto, a negligência é inadmissível. Da mesma forma que, ao longo da história, a sociedade criou uma cultura da agressão, devemos agora instituir a cultura da punição.

Reafirmo que, apesar dos desafios que ainda nos são impostos, também temos motivos para nos mantermos otimistas. As mulheres tiveram muitas conquistas e estão hoje num contexto muito melhor do que 100, 200, 300 anos atrás. Precisamos reconhecer isso para não perdermos a fé.

*Ireuda Silva é vereadora de Salvador pelo Republicanos, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão de Reparação.

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