Desafios marcam a trajetória de mulheres e meninas na Ciência

Além da falta de representação, mulheres precisam se provar constantemente

Nesta sexta-feira (11), é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Apesar de o tema estar ganhando cada vez mais visibilidade, ainda há um longo percurso até a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, sobretudo nas áreas da ciência. Carolina Spinola, professora de Mestrado e Doutorado na UNIFACS, e Brenda Laudano, Mestranda em Desenvolvimento Regional e Urbano, falam sobre o tema e suas trajetórias no mundo acadêmico.

A professora Carolina Spinola acredita que foi escolhida pela carreira acadêmica e tem muito orgulho das decisões que tomou ao longo do caminho. “Eu tenho a certeza todos os dias quando acordo de que vou ter a oportunidade de aprender um pouco mais e de compartilhar esse aprendizado com outras pessoas. Trabalhar na construção de possibilidades para o nosso mundo é um grande privilégio”, declara.

Já Brenda Laudano, entrou no Mestrado assim que concluiu a graduação e se considera um ponto fora da curva. “Eu percebo que a minha trajetória acadêmica desde o início é um tanto fora do comum, especialmente pela minha decisão de logo ter me vinculado com a pesquisa científica”.

Ela considera o meio acadêmico muito masculino e pouco aberto a reconhecer as particularidades das pessoas. “Eu percebo que as questões que envolvem especialmente as mulheres acabam sendo reprimidas ou atropeladas, isso faz com que não somente a minha trajetória, mas o percurso de muitas outras meninas e mulheres seja recheado por desafios”, afirma.

Principais desafios

Para Brenda, não faltam motivos para serem listados sobre o que leva as mulheres a terem menos chances de ascensão na carreira científica. “O primeiro deles é o fato de que, por sermos mulheres, temos que provar inúmeras vezes que somos qualificadas para a função que desempenhamos e, como se não bastasse, temos que provar que a nossa vida pessoal não vai reduzir o nosso desempenho ou nos desqualificar para o cargo”, aponta. Ela acredita que muitos são os aspectos que prejudicam a ascensão feminina na carreira científica. “Contudo, quando observamos a causa deles, de alguma forma, todos vão encontrar um fio comum: ser mulher”, frisa.

Grades exemplos

A professora Carolina ressalta que durante séculos as mulheres produziram conhecimento, mas tiveram que se esconder por trás dos nomes dos maridos ou filhos. “Esse foi o caso de Marie Winkelmann Kirch (que no século XVIII precisou contar com a tutela do filho para desenvolver suas descobertas no campo da astronomia), Marie-Anne Paulze (química que passou para a história como a esposa de Antoine-Laurent Lavoisier) e Mileva Einstein-Maric (física ofuscada por seu célebre marido, Albert Einstein, para cujo trabalho trouxe grandes contribuições)”, elenca.

“Há o caso ainda de Sophie Germain, matemática francesa que teve que usar pseudônimo masculino para ter suas contribuições consideradas. Por que isso acontecia? E por que ainda não conhecemos e falamos dessas mulheres? Por que elas, e outras tantas cientistas, não são exemplos para nossas crianças e jovens?”, questiona a pesquisadora.

Uma sobe e puxa as outras

A data celebrada pela UNESCO e pelas Nações Unidas é um marco para a promoção da igualdade de direitos entre homens e mulheres na ciência pois na área ainda há uma sub-representação das mulheres. “Acredito que ocuparmos esses espaços é uma necessidade para ontem. É cada vez mais importante que uma de nós ocupe esse lugar para que seja possível abrir mais caminhos para outras mulheres. Cada vez que uma mulher consegue ser um nome no mundo acadêmico, todas nós estamos em evidência também”, declara Brenda.

“Basta que uma mulher consiga ocupar um espaço na ciência pela primeira vez para que todas nós possamos sonhar em ocupar o mesmo lugar um dia ou até mesmo ocupar outros espaços que ainda não foram alcançados”, acredita a estudante.

Mudança de cenário

Para Carolina, embora ainda exista muita desigualdade de gêneros em algumas áreas, percebe-se um aumento na quantidade de meninas em cursos que antes eram majoritariamente masculinos, como as engenharias, entre bolsistas de Iniciação Científica e alunos de cursos de Stricto Sensu. “Sem dúvida, essa é uma tendência positiva”, acredita.

Na visão de Brenda, o cenário “começou a mudar em função da coragem e persistência que nós, mulheres, temos para conquistar todo e qualquer espaço que desejamos. Porém, a mudança ainda é muito aquém da esperada. Ainda precisamos de muitas iniciativas e estratégias que sejam capazes de permitir a inserção e garantir a permanência de meninas e mulheres na carreira científica”, sublinha.

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