Prescrição médica de cannabis medicinal cresce 554% no Brasil

País possui 2.100 médicos prescritores; WeCann, que atua com formação na área, fala sobre importância de capacitação

De janeiro a 11 de novembro, a Anvisa (Agência Nacional de Saúde) recebeu 33.793 pedidos para importar medicamentos à base de cannabis, superando as 19.120 solicitações registradas em todo o ano de 2020. A crescente demanda de pacientes que encontram resultados nessa terapêutica, para o tratamento de variados problemas, têm pressionado a classe médica a se capacitar nesse sentido. Em 2015, a Anvisa tinha o registro de 321 profissionais que prescreviam derivados canabinoides. Hoje, segundo o órgão, são 2.100 prescritores, um crescimento de 554,2%. No entanto, em um universo de 502.475 médicos atuantes no Brasil, o número representa apenas 0,42%.

Para requerer a importação de produtos à base de canabidiol, é necessário que o paciente seja examinado por um profissional médico legalmente habilitado que possa fazer a prescrição, com base no quadro clínico e em outros tratamentos já realizados.

De acordo com a Anvisa, de sua parte, não há restrição para especialidades médicas que podem prescrever o canabidiol. Diante das evidências científicas acerca do potencial da cannabis medicinal para a saúde, a procura de médicos por formação técnica na área vem aumentando. A Wecann Academy, por exemplo, que atua com cursos exclusivamente voltados para profissionais médicos, vê o número de inscritos elevar a cada curso realizado: no primeiro, em março, foram 55 participantes. Já no mais recente, 105 médicos se inscreveram, inclusive profissionais de outros países – dos Estados Unidos, Equador e Portugal. Os cursos são ministrados em português, inglês e espanhol, já que a demanda por educação técnica qualificada na área é global.

“A cada dia surgem novas evidências científicas sobre o potencial da cannabis medicinal, mas sem conhecimento, como o médico se sente seguro para prescrever? Por diversas vezes, estive diante de pacientes refratários ao nosso arsenal terapêutico habitual e, cada vez mais, eles e seus familiares me questionavam sobre a possibilidade do tratamento com cannabis e o fato de eu não dominar o assunto me incomodava”, lembra a neurocirurgiã e fundadora da WeCann, Patrícia Montagner. “Não tive acesso a esse conhecimento na Faculdade de Medicina, nem na minha residência médica e, até hoje, temos poucas opções de livros e cursos qualificados que nos ensinem o passo a passo dessa terapêutica e como prescrever na prática, com segurança e bons resultados. É nossa responsabilidade nos apropriarmos desse conhecimento e oferecer aos nossos pacientes um tratamento com produtos à base de cannabis seguro, eficaz e assertivo”, completa a especialista, que tem em seu rol de atendimento mais de mil pacientes tratados com medicamentos à base da planta.

Esclarecimentos

A falta de informação e um persistente estigma em relação à cannabis – com muita confusão entre uso medicinal e o uso recreativo, são hoje o principal empecilho para a popularização dos benefícios da Medicina Endocanabinoide no Brasil, avalia a fundadora da WeCann.

Patrícia ressalta que a prioridade, hoje, é combater a ignorância em relação ao assunto e, nesse sentido, a comunidade médica é a liderança natural e correta no esforço de esclarecimento da sociedade. Mas, para tomar à frente, precisa se preparar melhor para isso. “É hora de estimular médicos e outros profissionais de saúde a estudar e se preparar. Temos que formar gente com capacidade técnica para consolidar a terapêutica com medicamentos à base de cannabis no Brasil, profissionais que vão diagnosticar, prescrever, realizar tratamentos de potencial transformador na qualidade de vida de milhares de pacientes portadores de doenças graves, refratárias e incapacitantes”, salienta.

A médica pontua que, diante da enxurrada de artigos científicos publicados na área e da robustez de resultados observados diariamente na vida de centenas de milhares de pacientes, está claro que a cannabis medicinal demonstra ser uma excelente alternativa. “Um motivo mais do que plausível para a urgência em garantir um processo de formação guiado pelo conhecimento científico e pela ética, que cumpra a finalidade maior de proteger e proporcionar melhores resultados aos pacientes”, conclui.

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