Está mais fácil conquistar uma vaga no curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) do que uma cadeira na Câmara de Vereadores de Salvador nestas eleições. Enquanto o índice para a graduação no 2º semestre desse ano é de 32 pessoas para uma vaga, em Salvador, onde se concentra o maior número de candidatos que concorrem ao pleito, a concorrência é de 36,98.
O índice é 12,42 pessoas a mais por vaga do que o das Eleições Municipais de 2016, quando 1.056 candidatos disputaram 43 posições (24,56 por vaga). Hoje (15), 1.590 candidatos concorrem a uma das mesmas 43 vagas para atuarem na Câmara Municipal da capital baiana — aumento de 50,5% comparado as eleições anteriores. Outros municípios também terão uma competição acirrada. Com base nas Estatísticas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o CORREIO montou um ranking com o índice de concorrência em 20 dos maiores colégios eleitorais da Bahia (confira abaixo).
Entra as cinco cidades onde a disputa é maior está também Feira de Santana que viu a concorrência aumentar até mais do que em Salvador. Se na eleição passada 413 candidatos tentaram conquistar uma das 21 cadeiras, a concorrência que chegou a 19,57 por vaga pulou para 32,9, ou seja, 13,3 mais pessoas para 691 candidatos no jogo político. Em seguida, vem Lauro de Freitas com 27,19, Itabuna (25,57/vaga) e Camaçari (25,24/vaga). Já a menor concorrência entre as cidades pesquisadas está no muncípio de Guanambi que tem menos de 10 pessoas para uma cadeira (9,87/vaga).
O analista judiciário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA) e professor da Ufba, Jaime Barreiros Neto explica o motivo de tantos candidatos a vereadores na corrida eleitoral das Eleições 2020.
E o eleitor não pode se admirar se nunca viu ou ouviu falar desse, ou de outro candidato. Neto destaca também que o cenário acabou favorecendo mais um fenômeno político nessas eleições. “O mesmo tempo que esse número cresceu, houve nos últimos anos a redução do tempo de propaganda eleitoral para os candidatos a vereador, o que faz com que a maioria não tenha nem a oportunidade de fazer uma propaganda no rádio ou na televisão. Então, é uma legião de desconhecidos, na verdade, que termina disputando essas eleições”, argumenta.
Para Neto, o grande número e a diversidade de candidatos não significa uma maior democratização das eleições. “A concorrência alta é ruim porque temos candidatos demais e nem todos tem a possibilidade, de fato, de mostrar suas ideias, de se apresentar ao eleitor e a tendência termina sendo a eleição daqueles candidatos mais conhecidos, que já tem um certo reduto eleitoral. Isso interfere realmente na possibilidade de renovação e de um debate mais plural dentro da câmera de vereadores”.(Correio*)