Brasil não pode tolerar desmatamento ilegal, diz Marina Grossi

Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2020 – O Brasil não pode ser tolerante com o desmatamento ilegal na Amazônia e precisa corrigir os rumos agora, definindo metas e implementando um plano de ação para alcançá-las. Paralelamente, o país tem que buscar uma retomada econômica em outras bases, com inclusão social e respeito ao meio ambiente, investindo em um modelo de economia circular e de baixo carbono. Em síntese, esses foram os dois pontos destacados pela presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, à questão para fazer o Brasil passar de visão internacional a potência sustentável, em painel do Seminário Retomada Verde, realizado nesta quinta-feira (3) pelo jornal O Estado de S. Paulo.

“O Brasil é potência ambiental, com uma posição que nenhum outro país tem, e precisa tirar proveito disso. Mas, para assumir um protagonismo global, o Brasil não precisa falar, fazer marketing. Temos um grande elefante na sala. A gente não pode ser tolerante com a ilegalidade. Aqueles que promovem o desmatamento ilegal na Amazônia têm CNPJ e podem ser fiscalizados”, afirmou a presidente do CEBDS.

Em sua fala, o presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), responsabilizou a desestruturação dos órgãos de fiscalização ambiental – promovida durante o governo de Jair Bolsonaro – pela imagem negativa do país no mercado externo. “O Brasil vinha construindo uma imagem na linha da preocupação com a preservação do meio ambiente. Não é uma crítica, é uma constatação. Bolsonaro ganhou a eleição com uma outra narrativa. E, ao longo de 2019, o Ministério do Meio Ambiente foi desorganizando ou desmontando tudo aquilo que foi construído desde os anos 90. Isso teve um grande impacto na nossa imagem no mundo e, mais do que isso, impacto nas decisões de investimentos”, disse o presidente da Câmara.

Segundo ele, o papel da Câmara é ampliar o debate e trabalhar em conjunto com outros atores da sociedade para aprovação de projetos sobre a implementação de um mercado de carbono no Brasil ou de maior punição para aqueles que praticam o desmatamento ilegal. “Tem duas âncoras que são essenciais para que o Brasil volte a recuperar a sua capacidade de atração de investimentos, para que volte a crescer e se desenvolver: a fiscal e a ambiental”, afirmou Maia.

De acordo com ele, a realidade de ajustes na atual política ambiental se impõe ao governo federal. “A pressão que a sociedade está fazendo por mais transparência e ação tem sido muito importante. Essa é uma agenda prioritária de toda a sociedade brasileira”, observou o deputado.

Já o cientista e pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Carlos Nobre, apontou a proteção de todas as florestas tropicais do planeta como estratégia essencial para evitar novos surtos epidemiológicos de escala global, como a Covid-19. Em nível nacional, Nobre destacou como desafio principal a mudança do atual modelo do agronegócio brasileiro, que, segundo ele, não pratica a agricultura do século 21: periurbana, tecnológica e verticalizada. “Há alguns belos exemplos de empresas que praticam esse modelo de agricultura, no qual é possível aumentar a produtividade sem ampliar a área agrícola, mas não tem escala. O Brasil precisa acordar para isso, caso contrário vai ficar para trás”, alertou o cientista.

Além disso, ele destacou o potencial econômico da biodiversidade brasileira. “Pouquíssimo exploramos economicamente a nossa biodiversidade, seja na Amazônia, no Cerrado, na Mata Atlântica ou na Caatinga. Hoje, aproveitamos quase nada no sistema econômico brasileiro, menos de 0,3% do PIB. A Embrapa gasta não mais do que 3% do seu orçamento no desenvolvimento dessa nova bioeconomia”, disse Nobre, citando como exemplo a cadeia de produção de açaí na Amazônia, que representa mais de 1 bilhão de dólares por ano para a economia da região. “Mais do que a madeira”, comparou o cientista.

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