Profissionais da UPA de Periperi relatam falta de condições de trabalho; 9 funcionários estão com Covid-19

Profissionais da UPA de Periperi, na região do subúrbio ferroviário de Salvador, denunciaram condições insalubres de trabalho no local. Segundo os funcionários, rotineiramente a Unidade de Pronto Atendimento apresenta lixeiras cheias, equipamentos de limpeza danificados, espaços que necessitam de higienização e áreas de circulação que facilitam a contaminação em caso de atendimento de pessoas com coronavírus. A falta de equipamentos de proteção e de treinamento adequado também são queixas das pessoas que trabalham no local.

“Entramos pela porta de entrada, onde ficam todos os doentes, passamos pelo corredor apertado, mínimo, para ir para a farmácia pegar o EPI e depois volta. Quando volta com esse EPI, ele está todo contaminado, estamos passando por uma área de sujeira, área de risco de contaminação, uma área de atendimento de Covid”, disse um funcionário que não quis se identificar.

“Precisamos de higienização, fiscalização e de condições de trabalho. A gente precisa de material à vontade, de treinamento, enfermeiro qualificado e presente e coordenação também”.
Até o momento, nove profissionais da UPA de Periperi foram diagnosticados com coronavírus. No total, 104 funcionários foram testados e 25 estão afastados. Uma técnica em enfermagem que trabalhava na unidade há três semanas morreu após ser infectada pela Covid-19.

“Ela estava trabalhando lá depois de ficar desempregada mais de um ano. Temos uma colega que está grave no Teresa de Lisieux e outra que está muito grave no Couto Maia”, contou outro funcionário.

Diante da situação, uma profissional da UPA de Periperi que está afastada por contaminação com a COVID-19 descarta voltar a trabalhar no local após se curar.

“Eu estou afastada e não pretendo, quando voltar desse afastamento, ir lá mais não. Quero trabalhar, mas não quero entrar no corredor da morte”.

Em todo o estado, 623 profissionais de saúde testaram positivo para coronavírus, segundo dados da Secretaria de Saúde (Sesab).

Secretário nega falta de equipamentos
Em entrevista ao Jornal da Manhã, na manhã desta segunda-feira (11), o secretário municipal de Saúde, Léo Prates, descartou a falta de equipamento de proteção nas unidades médicas de Salvador. Ele também pontuou que os profissionais da capital baiana passaram por treinamento no início do ano, já com o objetivo de enfrentar a pandemia de coronavírus.

“Primeiro, me estranha essa questão da falta de EPI. Temos na central de logística uma quantidade expressiva de mascaras cirúrgicas, fizemos a compra de cem mil máscaras N95. Agora, temos que dizer que o uso das EPIs é normatizado conforme norma técnica. Não é sobre o que o secretário de saúde pensa, o prefeito pensa, ou qualquer um pensa. A Secretaria de Saúde vem cumprindo essa norma técnica. No mês de janeiro e fevereiro, treinamos toda a nossa rede de urgência e emergência”, comentou Prates.

O secretário municipal também afirmou que tem realizado encontros com sindicatos que representam os profissionais de saúde, para conhecer as reclamações e buscar soluções para o bem-estar daqueles que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Léo Prates também pontuou que o fluxo de pessoas dentro da UPA de Periperi será revisto.

“Tenho mantido interlocução semanal. Essa semana estarei com diversos sindicatos discutindo problemas, achando soluções. Conseguiremos resolver tudo o que os profissionais querem? Não. Mas a secretaria tem se esforçado para fazer o máximo que pode. Não falta boa vontade ou determinação para resolver. Não temos falta de EPI. É preciso que o profissional colabore. A prefeitura está entregando o EPI. A parte do profissional é usar o equipamento de forma racional. Nossos profissionais receberam treinamento em janeiro e estamos fornecendo todas as EPIs. Ontem determinei que fosse revisto o fluxo dentro da unidade. A contratação de profissionais ocorreu quando detectamos falta de funcionários em determinados locais, como na UPA de Periperi”.

A presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Maria Inez de Farias, disse que tem acompanhado as denúncias junto com o Ministério Público do Trabalho.

“Não encontramos nenhuma unidade onde, de fato, estivesse faltando EPIs, mas sim com o racionamento maior, por causa da escassez maior devido à pandemia. Não estávamos preparados para isso e estamos nos organizando em meio a essa pandemia. O secretário falou que existe o treinamento, mas os profissionais ainda se sentem inseguros. O tamanho do problema é tão grande que a gente buscou o Ministério Público do Trabalho. Fizemos uma parceria e estamos fazendo inspeções conjuntamente, porque tem nos preocupado esses números, de contaminados e de denúncias”.

Até a manhã desta segunda-feira (11), Salvador havia registrado 3.670 casos de coronavírus, com 128 mortes.(G1/BA)

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