Ter ovo para comer é luxo’: sem renda, ambulantes pedem doações na Barra

Nos dedos enrugados, ela enumera os filhos e filhas: “Tem Roseane, Alexia, Rafael, Jean, Alexandre, tem também Maicon, tudo desempregado e dependendo de mim”, disse, ao mesmo tempo que emendava a conta. “Pera! Esqueci dos netos: tem Kalane, Rafaela, Jamile, Eyshila, Hellen Gabriely, Sofia e Lucas Ravi”. Ao todo, são 13 bocas que até então eram alimentadas diariamente pelo suor da ambulante Janete de Araújo Souza, 48 anos.

Só que, com a chegada da pandemia do novo coronavírus,Salvador adotou medidas de isolamento social para conter o avanço da doença e, desde então, Janete e outros ambulantes viram suas fontes de renda desaparecerem. Desde então, eles amanhecem todos os dias na escadaria do Edifício Oceania à espera de uma única coisa: comida.

“O pouco que tem lá em casa, é pra eles (filhos e netos). Se fico lá, serei mais uma boca pra dividir o pouco que recebo de uma doação e outra. É pouquinho de arroz, de feijão, só. Ter ovo para comer é luxo. Apesar de não ter vendido nada até agora (o relógio marca 11h), tenho que sair todos os dias. Não posso ficar parada. Muita gente depende de mim”, disse ela, que mora numa casa de dois cômodos na Roça da Sabina, uma comunidade da Barra.

Janete e os colegas fazem parte do contingente de trabalhadores informais que viram sua fonte de renda desaparecer com a queda do movimento das ruas – pensando nessas pessoas, o CORREIO e a Igreja Católica lançaram uma campanha para ajudar os trabalhadores informais. Valores arrecadados em doações serão transferidos para essas pessoas que não têm conseguido trabalhar durante a pandemia (veja detalhes abaixo).

”Estou preocupada. Além de não ter o que comer, estou correndo o risco de ser despejada. Estou com o aluguel de R$ 500 atrasado há 15 dias. Quando havia movimento, no Verão, eu chegava a tirar R$ 700 por mês. Hoje eu sequer consigo vender uma água, que custa R$ 2”, lamentou ela, que em breve terá a família aumentada.

“Estou para ganhar dois netos daqui a alguns meses, Kauã e Luara. As mães estão com um barrigão”, revelou aflita. Questionada se teme a pandemia ou toma algum cuidado ao ir para a rua, ela respondeu: “Nosso cuidado é Deus. A gente tem que escolher: ou come ou pego o pouco dinheiro para comprar máscara”.

Ela acrescenta que usar álcool para higienizar as mãos está fora de cogitação. O produto, segunda conta, tem outra finalidade em sua casa. “Uso álcool para cozinhar. Na semana passada peguei um pouco (álcool) com o vizinho”, disse ela, apontando o artesão Remilton Gonçalves de Oliveira, 34. “A gente pode não ter nada, mas o pouco que tem dá pra repartir”, disse ele. (Correio*)

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