Liderada por mulheres, creche em Salvador aposta em educação libertadora

Estar rodeada por crianças já faz parte da rotina da psicopedagoga Ilda Machado. Aos 37 anos e grávida de uma menina, a profissional se dedica há uma década à associação beneficente Creche Grão de Mostarda, em Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, mantendo um histórico de engajamento social. Foi ainda adolescente que ela iniciou o trabalho em ações desta natureza, quando integrou um projeto social com jovens no bairro.

“Da adolescência pra cá, eu não parei mais. Até hoje eu realizo meu trabalho – agora na creche – com esse olhar diferenciado que eu adquiri com a participação nos projetos sociais. Com isso, estou buscando sempre me reafirmar como mulher, negra, pobre, da periferia e sempre passar para as nossas crianças a consciência de que elas têm um lugar na sociedade. Elas podem, sim, fazer a diferença, mesmo que a nossa sociedade nos coloque à margem”, explicou.

A pedido da fundadora da instituição, Risoleta do Espírito Santo, a professora divide com mais dez mulheres a missão de cuidar de mais de 70 crianças de 2 a 5 anos. A instituição, que funciona há mais de três décadas, atende em tempo integral, das 7h30 às 16h30. A criançada tem direito a três refeições diárias, banho, escovação dentária e atendimento pedagógico. Um vivência que se confunde com a vida pessoal de Ilda, que mora ao lado da creche.

“Nossas crianças tem lugar na sociedade, mesmo que nos coloquem à margem”, diz Ilda | Foto: Divulgação
Educar para libertar

A professora Ilda partilha do pensamento da entidade em praticar uma educação que alia experiências de vida de alunos, professores, colaboradores e voluntários com a promoção da liberdade e da cidadania. O trabalho na creche motivou a psicopedagoga, que já tem um filho, a buscar mais formação na área para ampliar também a dos pequenos atendidos pela entidade. Para ela, o trabalho com a autoestima e o entendimento de que a educação possui uma força libertadora são fundamentais para a atuação.

“A creche significa, para mim, a oportunidade de promover, para as nossas crianças, um local onde elas tenham uma educação libertadora, onde elas tenham vez e voz. Na Grão de Mostarda, elas podem falar e estão lá para serem ouvidas. Isso vai ajudar a desenvolver crianças pensantes e críticas, como buscamos. Fica, para mim, esse significado forte de transformação da nossa sociedade. As nossas crianças podem crer que elas também podem fazer a diferença e acreditar nos seus sonhos”, pontuou.

Assim como Ilda, a secretária Maria do Socorro da Silva, de 58 anos, participa da mesma experiência com as crianças da creche, apesar de estar um uma função diferente. Ela começou na instituição como voluntária, em um processo de doação de trabalho e da vida, mesmo sem ter tido experiência anterior com outros projetos sociais, mostrando que, na Grão de Mostrada, toda intenção de colaboração é bem-vinda.

Para ela, trabalhar com o público infantil é um fator de aprendizagem, e o fato da equipe ter um número grande de mulheres ajuda na união por um só propósito. “Neste trabalho, aprendi muitas coisas que, antes, achava que não conseguiria fazer. Eu acredito que, com muitas mulheres juntas, o trabalho rende mais, pois estão todas unidas por um mesmo objetivo”.

Doações

A instituição em que Ilda, Maria do Socorro e outras mulheres trabalham oferece atendimento gratuito à comunidade, mas é uma entidade mantida por doações. Apesar do período de recesso, mantido para conter o avanço do novo coronavírus, a creche precisa de ajuda para o pagamento de contas essenciais, como água e energia, além de se preparar para receber as crianças quando as aulas forem retomadas, com alimentação e artigos de higiene à disposição.

Os interessados em doar podem entrar em contato por meio do número (71) 9 8502-3763 ou do e-mail [email protected]. Um pouco do trabalho dessas profissionais pode ser conhecido através do perfil no Instagram @_graodemostarda.

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