Baianos e turistas reverenciam Iemanjá no 2 de fevereiro no Rio Vermelho

Percorrer mais de trezentos quilômetros não é uma tarefa fácil. Porém, quando o que motiva é a fé e a devoção, a distancia passa a ser apenas um detalhe. É com essa determinação, que a aposentada Eliene Nascimento Ferreira Lopes, 70 anos, encontra forças para todos os anos participar da Festa de Iemanjá, no Rio Vermelho. Natural da cidade de Senhor do Bonfim, distante 336 km de Salvador, dona Eliene não esconde a felicidade em poder presentear a rainha das águas. “Eu gosto muito da festa. Gosto de Iemanjá, do movimento em torno da festa. É um dia de muita beleza. Venho todos os anos e faço muitos pedidos, principalmente para minha família, em especial minhas netas e bisnetas”, pontua a aposentada.

A distância também não é obstáculo para Arleno José de Jesus, 66 anos, que após quase morrer afogado em 1976 na praia de Ondina, em Salvador, passou a reverenciar Iemanjá, a quem ele atribuiu na época o seu salvamento, feito por um sufista. Natural da cidade de Euclides da Cunha, distante mais de 300 km da capital baiana, seu Arleno, todos os anos vive a expectativa do 2 de fevereiro. “Hoje é um momento de muita inspiração, alegria, liberdade e vontade de viver, pois graças a Iemanjá estou aqui”, ressalta.

O presente

De acordo com o Ogan, Reinaldo Farodemi, a escolha do presente à Iemanjá é feita através do jogo de búzios. Este ano, o presente escolhido foi um golfinho, como forma de chamar a atenção da humanidade sobre a importancia da preservalção da natureza. “É bom deixar claro para todo mundo que Iemanjá está pedindo que as pessoas se conscientizem. Ela vem em cima de um golfinho, justamente para representar a vida marinha, mostrar que é necessário ter a preservação, ter o amor, ter o respeito e ter a união.Então o foco principal é este: que a gente preserve o nosso meio ambiente”, pontuou Farodemi.

A religião

Há cinco anos participando da festa de Iemanjá, celebrando missa para os pescadores e o povo de matriz africana, o bispo Dom Marcos Paulo, da Igreja Católica Independente de Feira de Santana, diz que o mundo passa por uma grande crise de falta de amor.

Para o religioso, é preciso rever conceitos e construir pontes. “A ausência do amor gera intolerância, guerras, conflitos. Nós precisamos cada vez mais por em prática aquilo que Jesus Cristo nos diz: amai-vos como Eu vos amei, sem fronteiras, sem restrições. Precisamos derrubar as muralhas da ignorância, do preconceito e construirmos as pontes de amor e amizade, que nos levem ao outro e, consequentemente, assim chegaremos a Deus, que é o amor primeiro”, finalizou o bispo.

Contexto histórico

De acordo com historiadores, a festa começou em 1923, depois que pescadores, inconformados com um período de pouca fartura no mar, jogaram presentes nas águas para que a orixá revertesse a situação. Depois disso, a pesca foi abundante. A tradição foi crescendo até ser oficializada como a ‘Festa de Iemanjá’ em 1950.

Reconhecimento

A Festa de Iemanjá foi oficializada Patrimônio Cultural de Salvador, conforme título concedido neste sábado (01) pela Prefeitura, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM). O ato solene aconteceu na Colônia de Pescadores Z1, no Rio Vermelho, e contou com a presença do prefeito ACM Neto, do secretário municipal de Cultura e Turismo, Cláudio Tinoco, do presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro, do presidente da seccional baiana da Ordem dos Advogados do Brasil, Fabrício Castro, entre outras autoridades e a população.

Para o prefeito, o título de Patrimônio Cultural de Salvador à Festa de Iemanjá é mais um sinal de respeito à importância histórica da celebração. “A gente só constrói uma sociedade forte preservando a nossa história e projetando o futuro através da nossa sociedade. E fico muito feliz que a proposta de registro para que a Festa de Iemanjá se tornasse mais um patrimônio da cidade tenha partido da seccional baiana da OAB”, disse.(Ivan Luiz Santana) Fotos: Iuri Santos / Repórter Hoje

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