Minas Gerais já contabiliza mais de 40 mortos por causa das chuvas

Números ampliados a cada balanço: em nova atualização, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) informou ontem que o número de mortes decorrentes das chuvas de quinta e sexta-feira, em Minas Gerais saltou para 44. Em todo o período chuvoso, iniciado em novembro, foram 55 óbitos. Outras 19 pessoas continuam desaparecidas, todas no interior do estado. Na corrida para ajudar as cidades, decreto do governo estadual, que deverá ser publicado hoje, reconhecerá situação de emergência em 101 municípios. Nesta segunda-feira, a Defesa Civil do estado informou que Diamantina e Nova Era entraram na lista. Os decretos facilitam a transferência de recursos do governo federal para reparos e a entrega de doações – como colchões, cobertores, travesseiros e alimentos – recolhidas pelo Executivo estadual. Ontem, o governo federal garantiu que tem R$ 90 milhões para atender aos estados atingidos pelas enchentes. O ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, que veio a Minas, e o governador Romeu Zema (Novo) se reuniram com prefeitos para alinhar os repasses.

A maioria das mortes está concentrada na Grande BH: 13 em Belo Horizonte, seis em Betim, cinco em Ibirité e dois em Contagem. No interior, os óbitos estão listados em 10 municípios da Zona da Mata mineira: Alto Caparaó (três), Alto Jequitibá (três), Carangola, Divino, Luisburgo (duas), Manhuaçu, Pedra Bonita (duas), Santa Margarida, Tocantins e Simonésia (três). Ainda de acordo com o balanço da Defesa Civil estadual, 17.241 pessoas estão fora de suas casas em Minas: 13.887 desalojadas (6.767 na Grande BH e 7.120 no interior) e 3.354 desabrigadas (850 na RMBH e 2.504 no interior). Além disso, 12 pessoas ficaram feridas no estado – seis na Grande BH e outros seis no interior.

Por trás das estatísticas, a dor da perda. Histórias como a da cozinheira que trabalhava em um asilo, o jovem que havia acabado de tirar carteira de motorista, a adolescente que iria se formar, o pai que não conseguiu batizar a filha. Sonhos de família enterrados na lama, lembrados por quem sobreviveu em locais como a Vila Bernadete, no Barreiro, na capital mineira, onde, depois de mais de 40 horas, terminaram na manhã de ontem as buscas por sete vítimas soterradas no desabamento de casas durante o temporal da última sexta-feira.

Cinco corpos foram localizados pela manhã e dois haviam sido encontrados no sábado, numa operação que usou técnicas semelhantes às empregadas no rompimento da Barragem da Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As sete pessoas pertenciam a duas famílias.

O corpo do pequeno João Lucas, de 3 anos, foi o primeiro a ser localizado nos escombros ontem pelo Corpo de Bombeiros (Cobom), que pouco depois achou o pai dele, Thiago Rodrigo da Silva, de 26 anos, e a mãe, Kellen Santos Oliveira, de 25. Thiago retornou para casa para tentar salvar o filho, mas não conseguiu sair dos escombros, surpreendido por um outro deslizamento.

“O menino estava no quarto, não tinha como sair. Thiago voltou, mas não deu tempo”, conta o tio dele, Carlos Roberto da Silva, de 55. A única a sobreviver na casa foi a pequena Maria Eduarda, de 7 anos, filha de Kellen. Ela ficou a salvo graças a Senhor do Conselho Gomes, de 57, pai de Thiago, que tirou a menina da sala da casa. A menina foi levada para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.

A família morava em um barracão no fundo da casa de Senhor. O imóvel, também abalado pelo deslizamento de terra, resistiu à descida da lama e das casas que ficavam acima. Segundo o tenente-coronel Eduardo Ângelo, que acompanhou a reportagem na “zona quente” das buscas, todos os corpos foram encontrados próximos a esse local, que serviu de barreira para os escombros.

No domingo, 28 bombeiros trabalhavam no resgate. A área era de alto risco porque uma casa ameaçava cair. O que se via era um rastro de destruição. Sofá dependurado, paredes destroçadas, roupas, sapatos, tudo destruído pelo barro. Chamava atenção a quantidade de fios elétricos.

Nesse local, lavado pela lama, também foram resgatados os corpos da cozinheira Marlene do Carmo Silva, de 58 anos, e de sua filha Edvânia Rodrigues Silva, de 17. Os outros dois filhos dela, Edmar Rodrigues Silva, de 25 anos, e Luiz Augusto Rodrigues Silva, de 19, foram encontrados no sábado. A família de Marlene, que deixa outros três filhos, é de Frei Gaspar, no Vale do Mucuri. Parentes acompanhavam as buscas.(Estado de Minas)

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