A marginalização das transexuais provocada pela homofobia Vida longa e estável é exceção na sociedade brasileira

“Não me descobri trans, eu já nasci assim e não há nenhuma anomalia em mim”. Este é um relato de Tuka Perez, 36 anos, primeira assessora LGBTQI+ da Câmara Municipal de Salvador. Após as transexuais perceberem que o gênero que se identificam é diferente do que lhe foi atribuído, elas entram em uma profunda luta com a sociedade brasileira, que tem uma errônea cultura de rotulá-las como seres invisíveis, inexistentes, tornando-as marginalizadas. Diante desse cenário, a esmagadora maioria passa por dificuldades sociais e mentais, isso porque, devido ao grande preconceito, muitas abandonam a escola, não conseguem acesso as universidades e ficam fora do mercado de trabalho.

A expectativa de vida dessa parcela da sociedade é baixa. Dados da União Nacional LGBT apontam que o tempo médio de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos, enquanto a expectativa de vida da população em geral é de 75,5 anos, de acordo com informações divulgadas em dezembro de 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para sobreviver, muitas começam a se prostituir, pondo a vida em risco.

Segundo uma pesquisa realizada por uma ONG não governamental, a cada 19 horas um (a) LGBT morre, ou se suicida por conta da LGBTfobia no país. Das 445 vítimas de homotransfobia registradas em 2017, 194 eram gays (43,6%), 191 trans (42,9%), 43 lésbicas (9,7%), 5 bissexuais (1,1%) e 12 heterossexuais (2,7%).
Uma em milhões:
Tuka Perez, transexual, relata em entrevista que nasceu em uma família grande, de seis irmãos, sendo três meninas e três meninos. Ela era a transexual, sempre vista como a “ovelha negra da família”, a diferenciada. “No início não foi fácil. Eu fui crucificada. Lembro que meus irmãos diziam para a minha mãe: “essa coca cola é fanta”. Isso me machucava demais, principalmente porque a rejeição vinha da minha família”, disse.
Por não desistir e lutar pelos seus sonhos, a “ovelha negra da família”, se tornou em 2013, a grande protagonista da Câmara Municipal de Salvador. Tuka, se tornava naquela época, a primeira assessora transexual de Salvador. Uma luta histórica e de tamanha importância para a sociedade. Moradora de Pernambués e conhecida no bairro, no ano da eleição, um dos vereadores da cidade, Luíz Carlos Suíca (PT), fazia uma campanha no local e acabou conhecendo-a por ser uma das lideranças e fez o convite para que ela passasse a trabalhar no seu mandato.
“Eu sou uma vitoriosa. Tenho 36 anos. Sabemos que o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. Eu me sinto uma vitoriosa diante de todo esse cenário que passei em minha vida. Muitas travestis morrem pelo sistema, pelo ódio. Isso que vemos todos os dias na televisão”, disse.
A assessora relatou que quando começou a trabalhar, ninguém acreditava. Segundo relato, o preconceito e a rejeição existiram por parte de pessoas que não tinham conhecimento sobre a diversidade e, a partir daí, ela começou a descontruir toda imagem preconceituosa que as pessoas tinham contra as transexuais.
Legislação:
As pessoas transgêneras no Brasil se ressentem da falta de uma legislação que lhes garanta direitos básicos. Das iniciativas nacionais, só constam um decreto federal que autoriza o uso do nome social em determinadas circunstâncias e uma portaria que determina a oferta, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), do processo transexualizador (conjunto de procedimentos para adequar o corpo à identidade de gênero).
Embora essas decisões sejam válidas para todo o país, elas são vistas como “frágeis” por não terem força de lei, o que torna mais fácil sua extinção.

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