Oito mil crianças com deficiência participam do Festival Paralímpico em 70 cidades do país

Evento do Comitê Paralímpico Brasileiro na manhã deste sábado, 4, promoveu a experimentação esportiva para crianças e adolescentes em 26 unidades da federação

Cerca de oito mil crianças com deficiência de 25 estados e do Distrito Federal participaram na manhã deste sábado, 4, do Festival Paralímpico Loterias Caixa. Evento organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro desde 2018 voltou ao calendário na temporada 2021, depois da suspensão no ano passado em decorrência da pandemia de Covid-19.

As sedes foram distribuídas em setenta localidades em todas as regiões, desde o Amapá até a região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Pernambuco foi a unidade federativa que não contou com um núcleo.

Cada um dos 70 locais ofereceu a oportunidade de experimentação de, ao menos, três modalidades. São Paulo foi a cidade que mais participantes recebeu: cerca de 600 crianças passaram pelo Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro na manhã deste sábado, e experimentaram parabadminton, vôlei sentado e atletismo. Os demais núcleos ofereceram bocha, natação, tiro com arco, parataekwondo, canoagem, entre outras.

“O objetivo do Festival Paralímpico é prover a primeira experiência esportiva para crianças e adolescentes com deficiência, que muitas vezes são excluídas das aulas de educação física nas escolas”, disse Mizael Conrado, bicampeão paralímpico de futebol de cinco (Atenas 2004 e Pequim 2008) e presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro. “São momentos fundamentais e estratégicos, porque estamos não apenas fomentando a base, mas dando a oportunidade para a criança vivenciar o esporte”, completou Mizael.

“Alegria muito grande ver diversas crianças com deficiência praticando esportes, e como isso pode, de alguma forma, mudar a vida delas e de suas famílias, como mudou a minha”, disse o vice-presidente do CPB e campeão paralímpico de atletismo, Yohansson Nascimento.

Algumas cidades ainda tiveram o privilégio de contar com a participação de medalhistas paralímpicos, especialmente aqueles que residem nos estados e cidades em que ocorreram o festival.

Foi o caso de Vera Cruz, na Bahia, que teve como padrinho o campeão paralímpico de futebol de cinco Cássio Reis. A Escola Municipal Telma Regis de Andrade fica em Vera Cruz, município de 43 mil habitantes, na Ilha de Itaparica, aproximadamente 5 quilômetros, no lado oposto da Baía de Todos os Santos, da capital baiana, Salvador. As crianças baianas puderam vivenciar o vôlei sentado, a bocha e o goalball. O baiano Cássio, inclusive, falou sobre o fato de servir de inspiração aos jovens de Vera Cruz. “Quando eu era mais novo, como vocês, acreditei no meu sonho. Tive uma sementinha lá atrás para entrar no esporte paralímpico. E deu certo para mim. Sonhem com o esporte, a arte, a música e a educação. Acreditem no sonho de vocês. Se deu certo para mim, pode dar certo para todos”, afirmou aos presentes.

Em São Paulo, os velocistas Vinícius Rodrigues e Verônica Hipólito, cada um dono de uma medalha de prata em Jogos Paralímpicos, e Raíssa Machado, prata no lançamento de dardo em Tóquio 2020, prestigiaram o evento no CT Paralímpico. “Tive que trocar de prótese para acompanhar o ritmo das crianças. Para mim, estar aqui é uma alegria, trocar experiência com a criançada, eu tenho certeza que vai gerar uma lembrança por muito tempo não só para elas, mas para mim e para os demais atletas de alto rendimento que têm esta experiência”, comentou Vinícius.

Já a participação dos medalhistas paralímpicos em Tóquio Wallace dos Santos, no arremesso de peso, e Julyana Silva, no lançamento de disco, foi motivo de grande inspiração para as quase 120 crianças presentes no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), no Rio de Janeiro. “Wallace sempre foi minha inspiração porque foi medalha de ouro em Tóquio. E também gostaria de citar a Julyana, que eu já vi lançando disco no CEFAN em outras competições. Quero agradecê-los por estarem aqui me ajudando, me dando essa força e que, para mim, são dois guerreiros”, afirmou Matheus Pascoal Ortiz, 15 anos, do Rio de Janeiro, cadeirante devido a uma mielomeningocele, doença que causa má-formação na coluna do bebê ainda durante o período da gestação.

No Estado do Rio, o Festival aconteceu em Volta Redonda, Petrópolis e Engenheiro Paulo de Frontin, além do clube Vasco da Gama, também na capital fluminense.

“Para mim, o Festival é muito importante, pois o esporte começa na base. Ver essa criançada interessada no esporte é comovente. Da mesma forma que o esporte mudou a minha vida, pode mudar a de muitas crianças. Fico muito feliz de participar de um evento como este e poder voltar no local onde eu fiz a minha primeira competição, lá em 2013. Poder ver crianças iniciarem no esporte no mesmo lugar que eu pude começar é muito gratificante”, completou o carioca Wallace dos Santos, paraplégico após sofrer um acidente de trabalho em 2007.

A festividade não foi diferente em Colatina (ES), onde o campus do Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC) contou com a presença de Luíza Fiorese, jogadora de vôlei sentado e medalhista de bronze nos Jogos de Tóquio 2020 entre os 161 jovens com e sem deficiência participantes do evento.

“Estou muito feliz em poder participar do Festival, este é o meu primeiro ano. Inclusão é isso daqui: pessoas com e sem deficiência jogando juntas. Todo mundo entendendo o que é o esporte paralímpico, que ele está aqui para incluir. É muito divertido, é muito gostoso. Quando a gente está na quadra, sentado, todo mundo é igual, todo mundo está sentado. Quando eu cheguei ao vôlei, o sentimento foi de pertencimento, de que eu posso e foi isso que eu tentei passar para essas crianças hoje”, contou a jogadora de 24 anos.

Manaus não contou com a presença de atleta medalhista nos Jogos de Tóquio, no entanto, recebeu o maior evento da região norte do Festival Paralímpico. Ao todo, 150 crianças participaram das atividades de atletismo, bocha e parabadminton, no Ginásio Amadeu Teixeira, no bairro de Flores.

Mantendo a política de interligação entre seus projetos, o CPB também propõe aos participantes uma continuidade na prática desportiva. É o que explica o professor Ramon Pereira, diretor de desenvolvimento esportivo do Comitê Paralímpico Brasileiro

“Reunimos pelo menos 10 municípios em São Paulo, e quatro centros de referências, além das escolinhas do Centro de Formação do Comitê Paralímpico Brasileiro, no CT Paralímpico. O mesmo acontece nos outros estados e no Distrito Federal, onde o CPB já tem um centro de referência ou está em vias de instalar. Nosso projeto é estar presente em todas as unidades da federação, para atender à maior quantidade possível, desenvolver a base de atletas e dar qualidade de vida às crianças com deficiência. Todas as crianças estão sendo orientadas a procurar esses centros e associações locais, desde que, obviamente, elas tenham adquirido o gosto e a vontade de seguir com a prática esportiva”, explicou Ramon Pereira, diretor de desenvolvimento esportivo do CPB.

O Festival Paralímpico Loterias Caixa também celebrou o Dia Nacional do Atleta Paralímpico, comemorado em 22 de setembro. No entanto, por conta da pandemia de Covid-19, o evento deste ano foi adiado e acompanhou o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro.

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