Projeto de Sandro Bahiense estabelece políticas afirmativas e Dia Municipal da Etnia Cigana

O vereador de Salvador, Sandro Bahiense (Patriota), apresentou, nesta quinta-feira (14/10), um Projeto de Lei que institui o Dia Municipal da Etnia Cigana. A data escolhida é 24 de Maio, que também é comemorada os dias nacional e estadual. A proposta nasceu após um encontro do edil com os representantes ciganos Rogério Ribeiro, que é presidente nacional do Instituto Cigano do Brasil (ICB); Ely Macedo, coordenadora do ICB em Salvador; e Major Plácido, coordenador de Articulação do ICB/BA .

Conforme dados do ICB, a população na Bahia é de cerca de 40 mil pessoas. Há grupos em pelo menos 90 municípios. Na capital, os números ainda são desconhecidos, mas já foram mapeadas famílias em diversos bairros, a exemplo de Cajazeiras, Fazenda Grande II, Cassange, Liberdade, Pero Vaz, Fazenda Grande do Retiro, Ondina e São Cristóvão.

“O objetivo inicial é que a data passe a integrar o Calendário Oficial de Salvador e com isso, sejam gerados oportunidades de mais políticas afirmativas. Precisamos conscientizar a população de Salvador sobre a importância da cultura Cigana para a sociedade, além de incentivar e preservar os costumes”, pontuou o edil que também destaca “a necessidade urgente de eliminar o preconceito, discriminação e a perseguição sofrida pelos Povos Ciganos”.

“A gente traz também na matéria que seja criado um evento denominado ‘Cultura Cigana’ com a realização debates, palestras e seminários em escolas municipais, sempre na terceira semana do mês de maio e com o apoio das secretarias de Educação e de Cultura. Isso também poderá ter a participação dos setores do Turismo, o que também poderá gerar renda para a cidade e a população”, acrescentou. Bahiense disse que agora o PL será apreciado nas comissões temáticas da Casa Legislativa e depois segue para o Plenário para ser aprovado.

Coordenadora do Instituto Cigano do Brasil (ICB), Ely Macedo afirma que há um preconceito enraizado na população e que é mais do que necessário a implementação dessas políticas afirmativas.

“O cigano é gente, é ser humano, igual a qualquer outro. Queremos que nossa tradição seja respeitada, da mesma forma que respeitamos os outros povos. Estamos no século XXI, em pleno ano de 2021, não é mais possível admitir preconceito e discriminação. Isso tem machucado muito o nosso povo ao longo dos anos desde quando os primeiros ciganos chegaram ao Brasil em 1574”, disse.

Ely relata que muitas famílias ciganas chegam a mudar o sobrenome por causa da discriminação. Além disso, “muitos deixaram os grupos e se urbanizaram”.

“Essas famílias se deslocaram por temerem esse preconceito. Há famílias em diversos bairros da capital, mas não se mostram. Para você ter ideia quando uma criança cigana vai para escola e os pais das outras ficam sabendo que ela é cigana, mandam os filhos se afastarem. Então, isso causa um trauma grande”, desabafou.

História e luta diária

Os primeiros ciganos chegaram ao Brasil com os navegantes portugueses em 1574. As autoridades da época viam nos seus territórios ultramarinos uma oportunidade de se livrar dessas pessoas que eram consideradas “indesejadas”. Os ciganos estabeleceram-se em praticamente todo o território nacional, especialmente na Bahia. Há três grupos: Calon (predominante na região Nordeste), Sinti e Rom.

Por trás da diversidade cultural e étnica existe um mundo cigano formado por acampamentos em diversos municípios. Na Bahia, o ICB conta com representações formais em 16 cidades. Os maiores grupos estão localizados no litoral de Camaçari (Monte Gordo, Jauá e Arembepe), Utinga, Miguel Calmon, Ipiaú, Itabuna, Correntina e Vitória da Conquista. Porém, o número pode ser muito maior.

O presidente do IBC, Rogério Ribeiro, citou que “estamos vivendo uma vida de pessoa que não é do mundo cigano e há muita gente na informalidade”.

“Devido a esse preconceito de que todo cigano é ladrão e não presta, acontece isso. Se isso fosse verdade os presídios estavam lotados de ciganos. A gente não compactua com nada de errado e quem está cometendo erros, tem que ser preso. Queremos a coisa justa, pelos rigores da lei. E não aceitamos que nos maltrate”, ratificou.

“Estamos vivendo uma vida de pessoa que não é do mundo cigano. Então, essas ações são uma questão de sobrevivência para nós. O vereador Sandro foi muito feliz, tratou a gente com muito carinho e respeito. Ele vai visitar as comunidades ciganas com a gente, conhecer a nossa cultura e o nosso povo. O Dia da Etnia Cigana trará o fortalecimento e visibilidade para um povo tão sofrido e oprimido. O povo Cigano é respeitoso e não provoca guerras, promove a paz!”, concluiu Rogério Ribeiro.

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