Em quatro meses, mortes por Covid-19 de pessoas entre 40 e 49 anos são 55% maiores do que todo o ano de 2020

Pacientes graves, com filhos pequenos, são cada vez mais comuns nas UTIs Covid

O metalúrgico Ciro da Silva Porto, 41 anos, precisou de 34 dias na UTI para se recuperar da Covid-19. Casado, com filhos de 7 e 10 anos, ele sentiu os primeiros sintomas da doença no dia 6 de março. No dia 11, a saturação caiu e ele foi internado no Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), e intubado, com 50% do pulmão comprometido.

Infelizmente, a história de pacientes jovens com risco de morte é cada vez mais comum nos hospitais de todo país. Dados do Cartório de Registro Nacional mostram que o número de óbitos por Covid-19 em pacientes com idade entre 40 e 49 anos aumentou 55% nos primeiros quatro meses de 2021, se comparado a todos os 12 meses de 2020. Foram 19.006 mortes registradas entre janeiro e abril deste ano, contra 12.195 mortes no ano passado.

Assim como muitos infectados, Ciro travou uma batalha contra o coronavírus. Depois de 11 dias foi extubado, mas menos de 48 horas depois voltou para a ventilação mecânica e precisou de uma traqueostomia. “É comum observarmos uma fraqueza na musculatura dos pacientes e isso, muitas vezes, leva a uma nova intubação. A Covid-19 é uma doença muito agressiva, que exige muito dos pacientes, da família e da equipe de saúde”, frisa o intensivista do Hospital Marcelino Champagnat, Jarbas da Silva Motta Junior.

“No início, a gente acha que tudo vai passar logo. Os amigos falam: ‘sete dias e ele está em casa´. Depois são 10 dias, 15 e o tempo não pára de aumentar. Minha mãe também foi hospitalizada com coronavírus na mesma época e eu e meus filhos tivemos resultados positivos. Enquanto eles travavam uma luta no hospital, eu fiquei trancada com os meninos e precisando ser forte pelas crianças, apesar da angústia diária”, conta a dona de casa Deisi Godói. “No dia em que eu enterrei a minha mãe, meu marido foi intubado pela segunda vez. Até hoje não sei como tive forças”, desabafa.

O metalúrgico teve alta no dia 24 de abril. Ele ainda utilizou o oxigênio por duas semanas e, desde então, faz sessões de fisioterapia para recuperar a parte pulmonar e os 15kg de massa muscular que perdeu com a doença, mas agora está em casa.

Apoio

Além de contar com a ajuda e o apoio da família e dos amigos, Deisi conta que o cuidado do setor de psicologia do hospital fez diferença. “O meu marido foi internado na sexta-feira e na segunda fizeram a primeira ligação por vídeo. Ele estava pronado, intubado, mas o fato de vê-lo fez toda a diferença, mesmo que pelo celular. Não sei explicar, mas é muito diferente do que só ouvir o médico falando sobre o estado de saúde”, lembra.

Enquanto Ciro estava desacordado, a equipe de psicologia fazia ligações diárias e colocava áudios da família e dos amigos para ele escutar. “Sempre pedimos áudios da família e colocamos diariamente para os pacientes. Isso ajuda no tratamento. Quando acordam, os vídeos dos filhos, das pessoas mais próximas, refletem positivamente no estado de saúde. Quando têm filhos pequenos, o cuidado é ainda maior. Esse contato, mesmo que virtual, dá a força para que continuem o tratamento com mais vontade e esperança”, ressalta a psicóloga da UTI do Hospital Marcelino Champagnat, Rosane Melo Rodrigues. “A gente reunia a família para falar com ele. Meus filhos, os pais dele, todos com uma alegria enorme em ver a melhora e os progressos diários”, relembra a esposa de Ciro.

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