O poderoso mercado dos colecionáveis

Segmento segue a pleno vapor mesmo na pandemia

Colecionar objetos é uma tradição comum, existente há décadas em diversos países e culturas. Pessoas do mundo inteiro investem tempo e dinheiro em suas coleções e a prática está longe de parecer uma mania sem fundamento. Em um ano atípico como o de 2020, uma diversidade de pessoas aproveitou para reorganizar suas casas e encontrar um espaço para começar ou expandir coleções.

Assim como muitos utilizaram o que seria investido em viagens e planos adiados em novos colecionáveis de sua preferência – bonecos, gibis, action figures -, outros encontraram na coleção um hobbie, cercado de nostalgia e de boas lembranças. Não à toa, lojas de brinquedos e mercados de discos de vinil foram alguns dos que mais sentiram o impacto positivo da quarentena em seus números.

Além de remeterem a experiências do passado, há vários motivos que levam as pessoas a se dedicarem às coleções. Para a psicóloga Maria Fogo, o ato de colecionar intensifica o senso de organização, o fascínio pela descoberta e pode ser ainda uma maneira de buscar interações em grupos sociais. “Colecionar é uma atividade recomendada para todas as idades”, afirma em artigo da Universidade Metodista de São Paulo.

Aumento de coleções durante a pandemia

O técnico de manutenção Matheus Sanches, de 25 anos, é um colecionador ávido de action figures. Recentemente, sua coleção iniciada em 2008 com um item do Homem de Ferro ultrapassou 30 peças. “Sempre foi um sonho e algo que me chamou atenção. Hoje posso dizer que tenho muito orgulho de ter alcançado esse objetivo”, afirma o jovem, que participa de grupos para colecionadores em redes sociais para discutir lançamentos e preços.

Colecionáveis do universo geek têm um dos maiores potenciais de crescimento. Além de action figures, objetos como HQs originais e bonecos funko entram no radar de colecionadores pelo mundo. O CEO do e-commerce de departamentos Super25, William Rafael Landim, afirma que durante a quarentena houve aumento de cerca de 30% na venda de itens do tipo.

Dentro desse número, alguns produtos tiveram desempenho superior, como bonecos referentes à série The Mandalorian, parte da saga de Star Wars, que chegou na plataforma de streaming Disney+ em novembro. “A procura por modelos específicos, como o Baby Yoda, aumentou ainda mais”, afirma o empresário.

A volta dos discos de vinil

Outra indústria que viu seus números dispararem durante a quarentena foi a dos discos de vinil. Apesar de ser uma criação da década de 1950 e ter, temporariamente, perdido o posto principal na indústria fonográfica para invenções mais tecnológicas, como os CDs e as plataformas de streaming, os discos continuam extremamente relevantes no dia de hoje, sendo uma aposta de artistas jovens.

Nos Estados Unidos, a venda de vinis bateu recordes históricos durante 2020. A empresa Nielsen Music apontou que, apenas na semana de 24 de dezembro, os números ultrapassaram a marca de 1,8 milhão de unidades vendidas – sendo a maior taxa de LPs comercializados desde o início do monitoramento em 1991, de acordo com a Billboard.

Além disso, no mesmo período, as vendas de vinis ultrapassaram as de CDs pela quarta vez em 30 anos – as outras três ocorrências também foram no ano passado. Quem lidera o ranking de vinis nos Estados Unidos é o cantor Harry Styles, com o álbum Fine Lines, que soma 10 semanas em primeiro lugar na lista.

Porém, o que não falta no mercado são fãs de artistas mais antigos, que lançaram LPs quando a mídia era a forma principal de se divulgar músicas. Pedro Paiva é um deles. O DJ de 40 anos faz parte do coletivo nacional “Vinil é Arte” e expõe em seu Instagram (@PedroPaivaDiscotecario) sua coleção com quase sete mil peças.

“Eu me identifico com o formato. Trabalho há muito tempo com discos de vinil e foi a forma como me encontrei na música, tanto pessoalmente, quanto profissionalmente”, conta Pedro. Apesar de garantir não possuir um disco preferido dentre sua coleção, para o DJ, itens que foram presentes ou, ainda, adquiridos em um contexto atípico ganham seu carinho.

“Tenho um compacto do Moreira da Silva que foi encontrado dentro de um forno industrial, em um galpão abandonado. Foi um trabalho quase de arqueologia, as condições não eram boas”, lembra. A experiência inusitada marca a importância do item, principalmente para o DJ que não costuma comprar discos pela internet. “Prefiro encontrar os vinis à moda antiga. Lojas, feiras livres, cidades para as quais viajo”, afirma.

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