Trabalhadores da Ford fazem protesto no CAB

Pelo segundo dia seguido após a decisão da Ford de encerrar as atividades no país, trabalhadores da planta de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, realizam um protesto contra a medida anunciada pela montadora norte-americana, na última segunda-feira. Ontem, os manifestantes se concentraram no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em frente à sede da Assembleia Legislativa (AL-BA).

O primeiro dos atos começou às 9h30, com uma série de discursos que ocorreu em cima de um mini trio elétrico, quando foi reforçada a defesa dos empregos dos mais de 12 mil funcionários, somente da unidade de Camaçari, mas que passaram a ficar sem trabalho, após a decisão da empresa. Além do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, participaram deputados estaduais e federais.

Durante a fala, Bonfim criticou a automotora pelo fato de ela já estar, segundo ele, convocando trabalhadores para assinar o aviso prévio, sem que qualquer valor de rescisão dos contratos tivesse sido negociado. “Eu pedi ao gerente para suspender essa ação. Porém, a Ford está irredutível e percebemos que a situação se agrava a cada dia mais”, afirmou o dirigente do Sindicato.

Em seguida, uma comitiva com parlamentares e membros da organização seguiu em direção à Assembleia Legislativa da Bahia, onde foram recebidos pelo deputado estadual, Nelson Leal, presidente da instituição. Em outro ponto da cidade, na Vila Militar dos Dendezeiros, o governador Rui Costa, que participou da passagem de comando da Polícia Militar, afirmou que a solução para o problema não virá rapidamente.

FECOMÉRCIO LAMENTA

Ainda em meio a repercussão pela notícia que pegou muita gente de surpresa, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA) lamentou a decisão da Ford de encerrar as atividades na Bahia e ressaltou que o impacto pela saída da Ford é muito maior do que as pessoas podem imaginar. Do ponto de vista econômico, são atualmente pouco mais de mil trabalhadores formais na indústria de peças e acessórios.

“Sem falar nas indústrias de pneus, tecidos para estofados, entre outros produtos que compõem os veículos e que serão forçados a reduzir a produção ou até mesmo ter a decisão pelo fechamento, caso seja totalmente vinculada a cadeia da Ford”, avalia Guilherme Dietze, economista da entidade.

Para Carlos Andrade, presidente da Federação baiana, a saída da Ford do Brasil – vai permanecer na Argentina e no Uruguai – chama a atenção para uma reflexão no país. “Que há a necessidade imediata da revisão da carga tributária excessiva, além de uma maior segurança jurídica e econômica, para que o Brasil não perca mais investimentos, e consiga por outro lado atrair mais recursos para geração de emprego e renda, o chamado ‘Custo Brasil’”, apontou.

Apesar disso, o executivo ressaltou que a Fecomércio-BA confia no Governo do Estado e na Entidade parceira, a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), que consigam reverter a situação e devido aos incentivos dados ao longo da trajetória da empresa na Bahia. Andrade avaliou ainda que a Bahia é grande e forte, importante estado para a economia nacional e com potencial. “No entanto, no curto prazo a situação requer cuidado com os profissionais que deixarão o seu emprego e perderão uma parcela da renda”, alertou.

MPF APURA

No início da tarde de ontem, o Ministério Público Federal (MPF), em Brasília, anunciou que abriu um procedimento administrativo para acompanhar os impactos socioeconômicos e concorrenciais do fechamento de fábricas de automóveis no país. A ação foi instaurada pela Câmara de Consumidor e Ordem Econômica do órgão federal (3CCR/MPF). O objetivo com a medida é o de coletar, sistematizar e tratar dados ou informações técnico-jurídicas voltadas a subsidiar eventuais medidas no âmbito do Ministério.

Na avaliação do coordenador da 3CCR, supbrocurador-geral da República Luiz Augusto Santos, o fim das atividades de fabricação de veículos no Brasil pode gerar prejuízos ao setor industrial, com impactos “capazes de provocar a redução dos níveis de renda e emprego nacionais, afetando negativamente a economia, além da potencial repercussão no nível concorrencial do mercado de veículos”.

MPT FAZ REUNIÃO HOJE

Nesta quinta-feira, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Ministério da Economia realizam audiência com a Ford nesta para discutir impactos trabalhistas com o fim das atividades da montadora no país. O evento vai ocorrer de forma virtual, a partir das 9h30. Na última terça-feira, representantes da Ford já se reuniram por videoconferência com a presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Maria Cristina Peduzzi.

Segundo comunicado da Corte, o diretor jurídico da Ford, Luís Cláudio Casanova, disse que a decisão de reestruturação da empresa, na América Latina, foi tomada diante de prejuízos obtidos anualmente, amplificados durante a pandemia da covid-19. O advogado enfatizou que a empresa sempre valorizou a negociação coletiva e buscou manter uma postura de composição e de apoio aos parceiros, uma vez que parte da produção seguirá ocorrendo até o último trimestre do ano, e outras atividades continuarão sendo realizadas no Brasil.

Já a audiência de hoje terá a participação do procurador-geral do MPT, Alberto Balazeiro, do titular da Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical e do Diálogo Social (Conalis) do MPT, Ronaldo Lima dos Santos, e do secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco Leal.(Tribuna da Bahia) Foto: Reprodução Redes Socais

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