SESI e SENAI formam primeira turma do Novo Ensino Médio no Brasil

Protagonistas de uma experiência pioneira no país, 198 estudantes concluem Novo Ensino Médio. Além do tradicional certificado de conclusão, os jovens saem diplomados como técnicos em Eletrotécnica

Depois de três anos de uma experiência pioneira no país, o Serviço Social da Indústria (SESI), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), forma, nesta quinta-feira (17), 198 estudantes de cinco estados – Alagoas (40), Bahia (51), Ceará (20), Espírito Santo (57) e Goiás (30). É a primeira turma do Novo Ensino Médio, formada no chamado Itinerário V, que associa o ensino regular à formação técnica e profissional.

Os alunos estudaram com gratuidade e 81,5% vieram de escolas públicas, 87% são da classe D e 13% são classe C. Receber o certificado do Ensino Médio e do curso técnico de Eletrotécnica, em meio às dificuldades impostas pela pandemia e pela realidade socioeconômica, é a primeira conquista de uma nova trajetória que eles começaram a escrever em 2018.

A estrutura SESI SENAI possibilitou adaptar as aulas para o modelo a distância e cumprir o calendário escolar. Diretor-superintendente do SESI e diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi destaca que as organizações são referência na formação técnica e profissional.

“Por mais de um século, tivemos um mesmo modelo de ensino, que não acompanhou as mudanças tecnológicas e as necessidades do mercado de trabalho e da indústria. O Novo Ensino Médio é a revolução desse modelo, possibilitando aos jovens terem contato com o mundo profissional e construírem planos para o futuro”, defende.

Enquanto as escolas públicas e privadas têm até 2022 para implementar e estão dando os primeiros passos, a rede forma a primeira turma após três anos de muito aprendizado. Em 2019 e 2020, ampliou-se a oferta do Novo Ensino Médio, que hoje é adotado em 22 estados, 78 escolas, 139 turmas, com 6.538 estudantes matriculados.

Além do itinerário V – para o qual existem 20 cursos técnicos, entre Eletrotécnica, Redes de Computadores, Programação de Jogos Digitais, Mecatrônica, Meio Ambiente, Edificações, Logística e Alimentos –, a rede já oferece os itinerários de Ciências da Natureza e Matemática.

Nesse período, estudantes, pais e docentes relatam amadurecimento profissional e pessoal dos formandos, resultado de uma abordagem interdisciplinar que incentiva trabalhos em grupo, o autoconhecimento e o protagonismo na construção de um projeto de vida e de carreira.

Estudantes traçam planos

A mãe da estudante Laísa Maia, Cristina Maia, de Feira de Santana (BA) define como “um holofote na minha vida, não só a luz no fim do túnel”, a oportunidade de a filha ter conseguido a bolsa de estudos em um momento de instabilidade financeira da família. Para garantir que a adolescente não interrompesse os estudos na pandemia, o SESI forneceu computador e promoveu as aulas on-line.

O curso de Eletrotécnica foi escolhido para as primeiras turmas após pesquisa em âmbito nacional, considerando a demanda de profissionais. Por atuar em diferentes segmentos com manutenção, projeto e execução elétrica e eletrônica, o técnico em eletrotécnica é um dos mais requisitados, com salário médio de R$ 1.700,00 a R$ 3.390,00.

Ao vislumbrar as oportunidades desse mercado, os estudantes Júlio Gomes do Nascimento e Ivo Fábio de Sousa Brandão já traçaram o plano de formar uma empresa de instalações elétricas. Os dois são de Cascavel (CE), região metropolitana de Fortaleza, e percorrem 120 km para estudar no SESI Euzébio Mota de Alencar.

“Pretendo, assim que terminar o ensino médio, entrar no mercado de trabalho e, em paralelo, fazer a faculdade de engenharia elétrica no período da noite ou da manhã”, orgulha-se Ivo Brandão, cuja mãe é dona de casa e o padrasto é pedreiro. Ele cita melhora na leitura e na escrita, para realizar pesquisas e falar em público.

Desenvolvimento de competências técnicas e pessoais

Percepção semelhante à de Alberto Júnio Novaes Guimarães, de Aparecida de Goiânia (GO): “A nossa argumentação era horrível, aí os primeiros debates viravam briga. Com o tempo, a gente começou a entender o quão importante era ter referências para falar de um assunto”.

Ao elogiar o estudo por áreas, ele se recorda de uma peça teatral que fizeram sobre o basquete nos Estados Unidos, unindo artes, educação física e inglês. O modelo de ensino está alinhado com a abordagem educacional conhecida como STEAM – acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes/Design e Matemática.

Além da carência de profissionais nas áreas de engenharia e tecnologia, o Brasil caiu no ranking em ciência e matemática na última edição do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. A formação contribui, portanto, com o mercado de trabalho e a proficiência dos alunos.

A professora Mirian Araújo da Silva, de Serra (ES), lembra ainda do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): “Pudemos perceber que a didática incentiva os alunos a pesquisar e a interpretar textos, dois artifícios que são essenciais para a avaliação do Enem”.

Mudanças incluem maior carga horária e ensino técnico

Estabelecido pela Lei nº 13.415/2017, o Novo Ensino Médio prevê aumento da carga horária, de 2400 horas para 3000 horas, composta 60% pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e 40% pelo itinerário formativo, que pode ser: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Formação Técnica e Profissional.

O aprendizado por área de conhecimento, com foco no desenvolvimento de competências e habilidades e não mais por disciplinas, exige mudanças. “Foi um processo de formação com a equipe, de testes, escolhas, muita conversa e planejamento. Tivemos o gestor de sala, um professor que dedica três horas semanais para conversar com os alunos sobre as dificuldades, a aprendizagem e os rendimentos, e com os pais”, detalha a coordenadora pedagógica Danielle Santos da Silva, de Fortaleza.

Ensino melhora empregabilidade

O itinerário formativo técnico profissional pode contemplar o estágio e a aprendizagem, que auxiliam o jovem no ingresso no mercado de trabalho e na geração de renda – um dos principais fatores para o abandono nessa etapa escolar.

O aluno sai preparado para os desafios atuais, com competências ligadas à indústria do futuro, o que contribui para a empregabilidade dos jovens, a capacidade inovativa das empresas, a produtividade e a economia do país.

Nos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 48% dos estudantes do ensino médio fazem educação profissional; no Brasil, índice não chega a 10%. A formação se faz ainda mais necessária tendo em vista que 44,2% dos brasileiros de 14 a 17 anos e 31,4% dos de 18 a 24 anos de idade estão desempregados e em busca de trabalho.

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