“Aconteceu no TJ-BA o que nós já prevíamos”, afirma Eliana Calmon

Ex-conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Eliana Calmon disse ontem que o afastamento e a prisão de advogados, desembargadores e servidores do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) e do Ministério Público da Bahia (MP-BA) já era esperado. Segundo Calmon, enquanto esteve no CNJ, ela tentou dar “correções de rumo” ao Judiciário baiano por meio de medidas administrativas, mas não teve êxito. Isto porque, segundo ela, os integrantes da Justiça “resistem muito a essas apurações”.

Calmon ficou conhecida no país por afirmar que há “bandidos de toga”. “Está acontecendo aquilo que nós já prevíamos. Há realmente um problema muito sério que precisava ir a fundo para, desta forma, ver se a gente consegue algum sucesso na forma de proceder do Poder Judiciário baiano. Eu conheço um pouco a história toda pelo fato de ser magistrada, baiana e ter estado na Corregedoria Nacional de Justiça, onde eu tentei melhorar a situação. Eu entendi que não dava para corrigir o tribunal como um todo, mas dava para melhorar um pouco fazendo certas correções de rumo (…) Estamos hoje fazendo a correção da forma mais violenta possível, que é com a polícia, afastamento e a prisão de magistrados, quando isso poderia ser evitado, se isso fosse feito administrativamente. Mas eu não contei com o apoio, inclusive, da própria categoria. O Poder Judiciário resiste muito a essas apurações. É exatamente a partir daí que as coisas começam a acontecer. Se não deixar transparecer o que está por trás das cortinas, naturalmente vai ficando mais difícil. O que está acontecendo hoje é aquilo que eu já previa que iria acontecer”, afirmou, em entrevista à rádio Metrópole.

Nesta semana, a Polícia Federal deflagrou uma nova fase da Operação Faroeste, e prendeu as desembargadoras do TJ-BA, Lígia Maria Ramos Cunha Lima e Ilona Márcia Reis. Além disso, o secretário estadual de Segurança Pública, Maurício Barbosa, e a ex-chefe do MP-BA, Eliene Lousado, foram afastados dos cargos. Ainda na entrevista, Calmon disse ainda que a ação, que provocou a operação da PF, durou 30 anos para ter um fim. Segundo os investigadores, magistrados estavam envolvidos em um esquema de venda de sentenças neste caso.

“Esse problema do Oeste da Bahia é coisa que está no Judiciário há mais de 30 anos. Eu fui procurada por um emissário do José Valter, que foi o pivô de tudo. Aconteceu tudo a partir das terras de José Valter, que é um homem simples, um mecânico. Tinha uma loja mecânica e essas terras. Todo dinheiro que pegava. Comprava terra no tempo que valia nada. Trocava-se terra até por maço de cigarro. Ele foi comprando terra e apareceu um pessoal do Rio Grande do Sul e do Paraná querendo fazer negócio. Ele era um homem simples, não fazia negócio de banco e disse o seguinte: ‘é até bom que a área se desenvolva e fez parceria com esse pessoal através de arrendamento, ele morando no local’”, contou a ex-ministra. “A partir daí, quando a safra começou a se desenvolver, esse pessoal expulsou José Valter e ficou com as terras. José Valter, há trinta anos, entrou com uma ação de reintegração de posse (…) Essa ação eu tive acesso a esta ação, e nunca se desenvolveu. (…) Esta ação de José Valter ficou parada com mandado de segurança por 25 anos”, emendou.(Rodrigo Daniel Silva / Tribuna) Foto: Wikipédia

Categorias: Noticias

Comentários estão fechados