Mulheres seguem ausentes em 17% das Câmaras Municipais do país, mostra levantamento do Instituto Update

Estudo da organização busca entender os mecanismos que freiam a representatividade na política brasileira

Ainda que as eleições de 2020 tenham sido as mais diversas em termos de candidaturas, a representatividade não chegou às urnas. Uma análise dos dados do TSE realizada pelo Instituto Update mostra que 17% dos municípios brasileiros não terão mulheres como vereadores. Pardos e pardas estarão ausentes de 18,45% das Câmaras Municipais, enquanto no que ser refere a pretos e pretas esse número sobe para 59,51%. Já a presença de pessoas amarelas e indígenas será quase nula: elas não estarão representadas em, respectivamente, 96,7% e 97,94% das cidades.

Os números mostram ainda que apenas 14,88% das Câmaras Municipais terão em sua composição uma proporção de mulheres igual ou superior a 30% – parcela reservada por lei a candidaturas para cada sexo em eleições proporcionais. A taxa de sucesso (pessoas eleitas em relação ao total de candidaturas) também se mostra desequilibrada: 5,06% para mulheres e 14,1% para homens. Levando em conta a cor da pele, é de 6,19% para pretas e pretos e de 12,5% para brancas e brancos.

Mesmo a renovação do ponto de vista político – pessoas eleitas pela primeira vez – não promove a representatividade: 81,7% dos novatos são homens. Brancas e brancos somam 52,7%, enquanto pretas e pretas são apenas 6,58%.

Os números contrastam com a pesquisa realizada pelo Instituto Update e o Datafolha pouco antes das eleições, que mostrou que os eleitores brasileiros estariam dispostos a votar em mulheres e pessoas negras. Os dados, no entanto, não surpreendem. “As pessoas eleitas espelham o sistema interno partidário, que não é democrático. As mulheres não conseguem vencer essas barreiras, pois não têm apoio, inclusive financeiro, dos partidos. Sem mudanças nas estruturas e nas cúpulas partidárias vamos continuar avançando a passos muito lentos”, afirma Beatriz Della Costa Pedreira, diretora e cofundadora do Instituto Update.

Para Gabi Juns, coordenadora do Instituto Update, os resultados reforçam algo que vem sendo detectado em diferentes estudos experimentais. “Está claro que há outros mecanismos que freiam a representatividade no Brasil. Nosso objetivo é atuar na busca de caminhos práticos para o enfrentamento dessa situação”, afirma.

A pesquisa com o Datafolha e as informações fornecidas pelo TSE serão combinadas a entrevistas em profundidade realizadas com candidatos e candidatas desta eleição. O estudo é desenvolvido para o Instituto Update pelos cientistas políticos Dra. Malu A. C. Gatto (University College London), Dr. Guilherme Russo (Fundação Getulio Vargas, CEPESP) e Dra. Débora Thomé (LabGen-Universidade Federal Fluminense), que possuem experiência internacional e publicações sobre o tema. Os resultados serão divulgados no início de 2021.

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