Escritora negra é indicada para a ALB

Na próxima terça-feira, a Academia de Letras da Bahia (ALB) vai escolher a ocupante da cadeira de número 15, que ficou vaga após a morte do escritor e jornalista, João Carlos Teixeira Gomes, que faleceu em junho deste ano. As postulantes são duas mulheres: a escritora Aline França (nascida de Teodoro Sampaio, interior do estado) e a coreógrafa Lia Robatto (paulistana radicada na Bahia desde os anos 1950).

Aline nasceu em 1948 e começou a escrever desde criança quando trabalhava com seus pais na agricultura. Na década de 1970, passou a trabalhar como funcionária da Universidade Federal da Bahia após ter sido aprovada em concurso público. Na década seguinte, integrou comissões julgadoras em concursos como Miss Afro-Bahia (1982) e Festival de Música Popular (1985). Além disso, produziu e dirigiu espetáculos populares, a exemplo do show Coisas da terra, em 1983, e Bahia africanismo, no ano seguinte. Além disso, participou de inúmeros debates sobre a mulher e o negro na literatura afro-brasileira.

Já Lia Robatto veio ao mundo em 1940. Logo aos nove anos, estudou balé clássico na Escola Municipal de Bailados de São Paulo e na Academia de Ballet Alina Biernarka. Em 1957, viaja a Salvador a convite da professora polonesa, Yanka Rudzka, para atuar por três meses na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA), primeiro curso superior de dança do país, fundado pela coreógrafa e por aqui permaneceu. No ano de 2009, recebeu o título de cidadã de Salvador pela Câmara Municipal por sua trajetória em prol da dança na Bahia.

Para ser eleita, uma delas tem que receber pelo menos 20 votos dos 38 imortais que estão aptos a votar. Caso nenhuma delas atinja a meta, será feita uma nova votação, até que Aline ou Lia obtenham dois terços dos votos. Na última quinta-feira, uma reunião on-line definiu o nome das duas como postulantes à cadeira de número 15 – a votação no próximo dia 3 também será remota. Há ainda outra cadeira vaga, a número 1, que era ocupada pelo historiador Luís Henrique Dias Tavares, que também veio a óbito em junho deste ano, assim como João Carlos Teixeira Gomes. Mas, neste caso, a eleição ocorrerá em data a ser definida pela Academia de Letras da Bahia.

Ao longo da história, o espaço teve poucos negros entre os quadros. Por isso, entre alguns imortais e personalidades, a torcida é grande para que Aline França seja a escolhida. “O pleito e uma provável presença de Aline França na Academia de Letras da Bahia, é há um só tempo, o reconhecimento do seu talento e criatividade, assim como o encontro da Academia com a diversidade que representa a nossa sociedade. A presença de mulheres negras e talentosas, como Aline França, só engrandece a Academia e a sociedade”, afirmou Zulu Araújo, diretor-geral da Fundação Pedro Calmon (FPC).

“Nós estamos em um período em que a batalha contra o preconceito e as cotas afirmativas tem sido assuntos amplamente discutidos. Nunca se conversou tanto sobre isso no país. Surgindo uma vaga como esta, eu acho que é uma luta que interessa a todos os negros. Nós precisamos de oportunidades iguais e não privilégios. Neste caso da Academia de Letras, eu me sinto um soldado nesta batalha por ela. Porque esta não é apenas uma forma de resgate, mas também servirá como um exemplo para todos nós negros”, pontuou o desembargador Ivanilton Santos da Silva.

Já o membro da cadeira número 7, Joaci Góes, ressaltou as qualidades de Aline França para ser a escolhida pelos imortais à academia. “Eu vou votar em Aline França”, declarou. “Não tenho nada contra a Lia Robatto, mas Aline é escritora e este é um detalhe importante para mim. Não é porque ela é negra e sim porque é boa escritora. E tem todos esses requisitos vivendo na maior cidade negra do mundo fora da África e cuja Academia de Letras, que é a mais antiga do continente americano, com 296 anos, só teve nove negros até hoje nos seus quadros. E, atualmente, só temos três, que entraram exatamente na minha gestão”, afirmou o empresário e ex-presidente da ALB, ao referir-se a Juarez Paraíso, Muniz Sodré e Edvaldo Brito. “Salvador precisa sair do discurso e partir para a prática na luta contra o racismo”, finalizou. (Tribuna da Bahia) Foto: Romildo de Jesus / Tribuna da Bahia

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