“Eu prefiro a pesquisa das ruas”, diz Isidório

O Pastor Sargento Isidório (Avante) pode ser considerado o ponto fora da curva da eleição de 2020 em Salvador. Com uma personalidade pitoresca que o distingue dos demais candidatos, parece estar agradando parte significativa do eleitorado da capital baiana, o que lhe garante até o momento o segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos divulgadas até o momento por diversos institutos de pesquisa. Conhecido por protagonizar polêmicas, o deputado federal e líder evangélico, todavia, critica os levantamentos que apontam também o maior índice de rejeição entre todos os nove candidatos. “Se eu tenho rejeição, quando eu chego na rua, o senhor pode ver como é que o povo, em qualquer lugar onde estou, faz comigo. A maneira, o carinho e o respeito que as pessoas têm comigo. Eu prefiro a pesquisa das ruas, mas respeito as avaliações”, declarou, em entrevista à Tribuna.

A vantagem sobre os outros adversários pode lhe garantir, inclusive, vaga em um eventual segundo turno contra o candidato do prefeito ACM Neto, Bruno Reis (DEM). Sobre a atual gestão, Isidório reconhece que houve alguns avanços, mas afirma que houve muita “maquiagem”, como ele mesmo classifica, nos últimos oito anos. “O Governo do Estado, desde Jaques Wagner, ajudou a prefeitura de Salvador sem olhar partidos políticos, investiu demais. As pessoas pensam que essas obras são de Neto, está entendendo? Foi feita muita maquiagem. Quando você vai para as periferias, você vê o sofrimento”, critica. No papo, Isidório revela as prioridades caso seja eleito e faz sinalizações ao empresariado atingido pela pandemia da Covid-19.

Tribuna – Como tem avaliado o desempenho dos seus adversários e as pesquisas que apontam o senhor em segundo lugar, logo atrás de Bruno Reis, que é o candidato do prefeito ACM Neto?

Sargento Isidório – Eu agradeço a Deus, porque costumo sempre dizer que, com a nossa luta política, nunca estive em pesquisa. Desde a primeira vez que ganhei a eleição para deputado estadual, os institutos de pesquisas não colocavam nem o meu nome. Quando a gente consegue estar no segundo lugar, com essas pesquisas que a gente percebe que toda hora são de um jeito diferente, parecendo que quem faz ela é quem dita [o resultado]. Se eu tenho rejeição, quando eu chego na rua, o senhor pode ver como é que o povo, em qualquer lugar onde estou, faz comigo. A maneira, o carinho e o respeito que as pessoas têm comigo. Eu prefiro a pesquisa das ruas, mas respeito as avaliações.

Tribuna – O que o senhor achou do cancelamento dos debates que estavam previstos nas TVs aqui da Bahia? Como viu a decisão das emissoras?

Sargento Isidório – Achei muito estranho, porque temos carências de democracia. E vocês da imprensa são quem cumprem o papel importante de estar falando os fatos, o que está acontecendo. E o debate mostra o candidato in loco, ao vivo, o eleitor conhece o candidato. Não quer dizer que quem está respondendo ali é melhor e quem respondeu pior é o pior. Ali é o momento de saber quem tem condição de desenvolver um histórico. Dá para perceber o psicológico, o emocional e o intelectual [do candidato]. Então, ter tirado o debate é muito estranho.

Tribuna – Caso o senhor seja eleito, qual será a sua prioridade em projetos para Salvador?

Sargento Isidório – A prioridade de qualquer prefeito eleito tem que ser estender as mãos sociais para as famílias prejudicadas pela pandemia, buscando restaurar e reerguer essas pessoas para devolver os empregos. Muitas empresas colocaram muita gente para fora. É preciso ter uma moratória em que o comerciante e o empresário possam pagar as dívidas para se restabelecer e para reempregar as pessoas que foram colocadas para fora. Outra coisa é incentivar a geração de empregos, os empresários e o empreendedorismo com incentivos de impostos no primeiro ano por conta da pandemia. Segurar um pouco o ISS, IPTU e algumas outras taxas de forma que as pessoas se restabeleçam. Em contrapartida, com a diminuição do imposto, a as pessoas [os empresários] vão empregar pessoas. E a pessoa quando está empregada, a economia vai bem. Vai comer, vai vestir, vai calçar… Além da questão da educação, já que a gente sabe que faltam creches, que faltam escolas em tempo integral. É agir nas famílias. Trabalhar fortalecendo as famílias.

Tribuna – No que o prefeito ACM Neto, que está deixando a gestão agora, mais deixou a desejar? Quais principais pontos fracos que o senhor enxerga e que pretende tentar resolver?

Sargento Isidório – O Governo do Estado, desde Jaques Wagner, ajudou a prefeitura de Salvador sem olhar partidos políticos, investiu demais. As pessoas pensam que essas obras são de Neto, está entendendo? Foi feita muita maquiagem. Quando você vai para as periferias, você vê o sofrimento. Então, [queremos] cuidar de gente de verdade. Não é cuidar de gente com maquiagem para ganhar a eleição. Todo mundo está aí disputando quem vai cuidar de gente, eu cuido há 27 anos. Moro com a minha esposa, meus filhos e meus netos dentro de um hospital de tratamento de dependentes químicos, onde 70% [dos pacientes] são de Salvador. Eles estão comigo no Natal, Ano Novo, São João, Semana Santa… Estamos cuidando na área da saúde, na área psicológica, cuidando de educação – porque é preciso fazer reinserção social. Então, eu prefiro deixar que o povo julgue, porque é suspeito o candidato a prefeito criticar o prefeito. Tenho que preparar a equipe de transição, olhar as dívidas, ver se tem dinheiro sobrando, explicar… É isso que tenho fazer. Tenho que ver as coisas que ele fez que deram certo para ampliar, como as prefeituras-bairro que a gente vai dobrar e colocar para funcionar diferente. Vamos colocar serviços de fato, fazer eleição de fato para esses prefeitos e prefeitas, que não serão mais indicados por vereadores e deputados. Vamos ouvir os donos da casa, que é o povo.

Tribuna – O senhor desenvolve um trabalho na Fundação Doutor Jesus. O senhor acha que falta em Salvador mais projetos nesse sentido de amparo e de combate à dependência química na população mais vulnerável da cidade?

Sargento Isidório – O problema de droga não está só em Salvador, está na Bahia toda, no Brasil todo e no mundo inteiro. Não estou vindo para Salvador para ser pastor de recuperação de drogados. Salvador não é uma cidade de drogados. Salvador é uma cidade de homens e mulheres inteligentes, pessoas empreendedoras. Lamentavelmente, tem o drogado. Aliás, droga hoje não é problema só do povo pobre. Drogas hoje estão nos palácios, nos condomínios, subindo os elevadores de luxo. Muita gente boa, que deveria dar exemplo, está por aí… A gente não pode falar por questão de ética, mas na Fundação Doutor Jesus tenho gente grande, professores de universidades e todo tipo de pessoa. O meu próprio irmão caçula, lamentavelmente, se acabou em drogas. Não estava necessitado, não. Não estava em vida difícil. Salvador precisa de escolas técnicas, como estamos inaugurando ali na BR para Salvador e Região Metropolitana. Estamos ampliando o objetivo estatutário da Fundação Doutor Jesus. Agora, a gente vai para a educação. A droga é salva pela educação. Estamos inaugurando a segunda maior escola técnica do Estado e vamos trazer para Salvador nas regiões do Subúrbio, Brotas e Cajazeiras – que são as três maiores áreas.

Tribuna – Na base do governador Rui Costa temos quatro candidaturas, contando com a do senhor. O governador tem dialogado com o senhor, tem dado alguma espécie de apoio, de amparo?

Sargento Isidório – Ele tem o time dele, que é o time do partido político dele. Primeiro, ele é comprometido com muito trabalho no Estado, mas agora ele entrou [na campanha]. Ninguém vai torcer para o Bahia gritando ‘Vitória’ e ninguém vai torcer para o Vitória gritando ‘Bahia’, né? Mas ele tem dado atenção. Em 2016 fui candidato e fiquei desolado. No partido que eu estava [o PDT], até o presidente municipal estava apoiando o prefeito que está aí. Então, foi uma deslealdade. Fiquei em cima de um carro, no sol quente e entrei de gaiato no navio. Agora, não. Conversei com minha esposa, meus filhos e minha assessoria. Eu saí candidato para ser prefeito de verdade, porque o trabalho que a gente faz é de gestão dentro da Fundação. Fiz projetos enquanto deputado estadual e federal. Só que a gente apresenta o projeto e ninguém faz. Então, chega uma hora que a gente tem vontade de fazer acontecer. Estamos com um partido com tempo de televisão [o PSD] para não só ir para o segundo turno, como também ganhar a eleição. Ele [Rui] conversou com Otto [Alencar, presidente do PSD] e graças a Deus a gente tem [o senador] Angelo Coronel como grande articulador. Da outra vez tinha 12 segundos e agora tenho 1 minuto. Tenho pessoas me cercando, como Edvaldo Brito e Antonio Brito. Então, tenho dois senadores no meu time e mais a amizade do Jaques Wagner, que é do outro time, mas é meu amigo.

Tribuna – O senhor acredita que a eleição vai ser resolvida no segundo turno?

Sargento Isidório – Isso para mim está claro. Não estou vendo favoritismo nenhum. As pessoas dizem que tem porcentagem e aprovação. O que estou ouvindo nas ruas não é isso. Existe uma diferença para o que se anuncia na televisão, na rádio e o que a gente está ouvindo na rua. Não se esqueçam dos excessos cometidos na pandemia. Claro, tem excesso. Trancar uma praça como a do Campo Grande, o Parque da Cidade e a gente ver os meninos do lado de fora? Numa praça do Campo Grande podia colocar guarda fiscalizando, máscara. As pessoas não podem ir numa praia. Então, teve muito excesso e prejudicou muita gente desnecessariamente. Tinha que combinar, avisar ‘olha, vamos tomar essas medidas protetivas’ e não chegar e lascar todo mundo de vez.

Tribuna – Então, o senhor vê alguns exageros e equívocos na condução das medidas restritivas?

Sargento Isidório – Vi equívocos. Construí na Fundação Doutor Jesus dois centros de combate e tratamento do coronavírus, porque não podia parar as internações. O Ministério da Saúde e a Secretaria de Educação fizeram o decreto dizendo que não podia parar o internamento de dependentes químicos. Então, fiz um para quem chega e ver se está contaminado e fiz outro para quem está se infectando. Houve muito dinheiro desviado, muita coisa feita para a política.

Tribuna – O senhor acha que o governo do Estado mais acertou no combate à pandemia?

Sargento Isidório – Rui se aliou ao prefeito e fui eu que disse, quando vi que estava tendo uma disputa entre os governantes, que todos precisam sentar e conversar para fazer ações conjuntas. Falei isso e está gravado. Depois, gerou a reunião dele com ACM Neto e eles passaram a andar de mãos dadas. Então, acho que algumas medidas foram excessivas. Mas não acho que é momento de achar culpados. Agora é tarde. Temos que pedir a Deus que já vá recuando a pandemia para que a gente já vá entrando na prefeitura olhando para outros ângulos. Quem entrar na prefeitura será o socorrista daqueles que foram flagelados.

Tribuna – O senhor é a favor da realização do Carnaval em 2021?

Sargento Isidório – Temos que planejar o Carnaval, porque se não tiver Covid daqui 150 dias, é uma festa que traz recursos de R$ 2,5 bilhões para Salvador e todo o Estado. Estou falando de uma geração imediata de emprego de 215 mil empregos diretos e indiretos. Agora, faremos se as autoridades de saúde autorizarem. Agora, planejado, tem que estar planejado. Quem planeja o Carnaval é o gestor atual. É a obrigação dele. O próximo tem o direito de adiar a festa se as autoridades sanitárias recomendarem. É bom dizer que Carnaval é uma das maiores indústrias de empregos do Brasil. Tem o setor de hotéis, restaurantes e vendas de alimento. São 2,3 milhões de turistas que vêm de todo o país e do mundo. Destes, 800 mil ficam dentro de Salvador gastando.

Os outros vão para a Chapada Diamantina, para as ilhas e fazem gastos – portanto, aquecem a economia. Estou pedindo que se planeje o Carnaval porque é uma obrigação dele [ACM Neto] planejar. E é direito meu, se for prefeito e se Deus quiser serei, se as autoridades de saúde orientarem, adiar. O futuro a Deus pertence.

Tribuna – Qual mensagem o senhor deixa para a população?

Sargento Isidório – A mensagem que eu deixo para o povo de Salvador é que Deus possa se compadecer do povo, para que as pessoas possam voltar para a sua vida normal. Para que as pessoas que têm como sobreviver, podendo ficar em casa, que fique em casa. Que se porventura tiver necessidade de ir para a rua, usar a máscara. Respeitar as recomendações das autoridades sanitárias. Cuidar mais dos outros, cuidar mais de si próprio. Tudo isso tem a ver com o mundo espiritual. Os homens e mulheres precisam se aproximar de Deus. É preciso pedir a Deus que haja um curto espaço de tempo para a restauração daqueles que foram prejudicados financeiramente. Aos que tiveram o empreendedorismo prejudicado, que possam voltar a normalidade. Restaurar a economia para colocar o povo de volta no emprego, levantar a autoestima. Deus me colocando na prefeitura, vamos estar fazendo o que se faz para turista ver nos bairros periféricos, ouvindo sempre as comunidades. A nossa administração será participativa, ouvindo todos os segmentos da sociedade.
(Tribuna da Bahia) Foto: Reprodução

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