Web Ato Político e cultural marca 222 anos da Revolta dos Búzios: “Não basta resistir, é preciso lutar”

Importância da histórica revolução baiana que defendeu bandeiras nacionais vai ser discutida e transmitida ao vivo pela Tv Câmara de Salvador e pelas redes sociais

A Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Salvador em parceria com a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), vai realizar, nesta quarta-feira (12), às 16 horas, um web ato político e cultural para marcar o Agosto Negro e os 222 anos da Revolta dos Búzios, ocorrida em 12 de agosto de 1798, e considerada a primeira revolução social e urbana a acontecer no País exigindo o fim da discriminação racial e da escravidão, além de pregar o desenvolvimento de governo baseado nos princípios de igualdade, república e democracia.

Com transmissão ao vivo pela Tv Câmara (Canal 61.4) e participação popular pelas redes sociais (www.facebook.com/tveradiocam), o evento – que está em sua 12ª edição, contará com apresentações culturais e além de falar sobre a representatividade da Revolta, terá debates sobre a origem do Agosto Negro – movimento fundado nos EUA em 1979 com a participação do movimento Panteras Negras – e demais datas históricas.

Serão explanados a importância e representatividade da Revolta dos Búzios na luta por igualdade e liberdade da população negra, cujos mártires – João de Deus, Lucas Dantas, Luiz Gonzaga e Manuel Faustino – passaram a estar eternizados no Livro Nacional dos Heróis da Pátria em 2011.

Mediado pela diretora da Escola do Legislativo, vereadora Marta Rodrigues, o debate sobre a Revolta – quando homens e mulheres negras de Salvador se rebelaram contra a elite que sustentava a escravidão e as desigualdades raciais e sociais – vai contar com a participação do cineasta Antônio Olavo, do pesquisador pan-africanista e coordenador da Conen, Gilberto Leal e da historiadora Gevanilda de Santos, do Soweto Organização Negra.

Os mais conhecidos desta batalha que incendiou as ruas de Salvador, com panfletos e búzios amarrados ao punho, foram condenados ao que se chamava na época de pena capital: mortos e esquartejados em praça pública, atual Praça da Piedade, onde estão seus bustos. A data em que foram mortos, 8 de novembro de 1799, se tornou em Salvador o Dia Municipal em Homenagem aos Mártires de Búzios, fruto de um projeto de lei da vereadora Marta Rodrigues.

“Até hoje, os livros de história do país continuam a recusar o protagonismo do povo negro na luta pela justiça social e pelo fim da escravidão para manter a narrativa falaciosa e privilegiada do colonizador e da atual elite que toma conta do país. Precisamos lembrar, criar datas, museus e memoriais que fortaleçam o legado de nossas mulheres e homens por igualdade racial nesse país”, afirma Marta.

Conforme o pesquisador da População Negra e coordenador da Conen, Gilberto Leal, o dia 12 de agosto, o 8 de novembro precisam ser reverenciados, assim como toda luta do povo negro. “No brasil temos diversas, a Balaiada, no Maranhão, a Sabinada, Búzios, Revolta dos Malês, na Bahia. A batalha secular de Palmares, Cabanagem, no Pará. Essas rebeliões vem à tona para entendermos a importância do legado da resistência negra e de luta, porque não basta apenas resistir, é preciso lutar”, declara.

Bandeiras nacionais – O web ato político tem o objetivo de refletir o racismo existente, e que a pandemia escancarou, conforme explica Gilberto Leal, e incentivar “a determinação nos dias atuais”.

Para o escritor, pesquisador e cineasta Antonio Olavo, diretor do longa-metragem “1798 – Revolta dos Búzios, uma das coisas importantes que precisamos trabalhar no Brasil é a melhora da historiografia brasileira. “A história que nos foi contada foi a história da elite que negativa a luta do povo negro”, diz.

Ele lembra que a Revolta tem uma importância nacional por três aspectos principais: “defendeu a independência do Brasil, pois falavam em ‘independência do continente do Brasil’, uma República Democrática e o fim da escravidão. Nenhum outro movimento no Brasil, antes ou depois deste, defendeu o fim da escravidão. Foi a única revolta com bandeiras nacionais e de liberdade, inspirada na revolução francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade”, pontua.

Segundo o cineasta, é preciso lutar pelo Dia Estadual e Dia Nacional da Revolta dos Búzios. “E além disso incluir no livro de heróis também Antonio José, que foi morto na cadeia, envenenado, e não teve a morte espetacularizada como os outros quatro em praça pública. Logo depois do dia 12 de agosto de 1798 as prisões eclodiram, e no dia 28, chegou a cadeia Antonio José, que teve papel fundamental e foi muito próximo de Lucas Dantas”, relata o pesquisador.

O evento conta com participação da professora Edenice Santana, do Núcleo Cultura Niger Okan; da professora Hamilta Queiroz, do Fórum em Defesa das Creches e Escolas Comunitárias; do cientista político Roque Peixoto; da representante da Associação Cultural Manuel Faustino, Diulice Vitorio.

Durante o evento haverá o lançamento da cartilha da Marcha da Consciência Negra Zumbi dos Palmares , participam Rosana Bezerra Lima, do representante do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Sintsef/NA), Antonio Capila e o historiador Cristiano Lima. A produtora da Associação Cultural Aspiral do Reggae, Jussara Santana encerra as atividades, que serão intercaladas com apresentações culturais e artísticas de Makonnen Tafari, rapper do Grupo Hip Hop Nova Saga, do poeta, ator e bailarino da Cia da Mata, França Mahin e da cantora e compositora Dona LIU.

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