Quem paga a conta pela inovação?*

Muito tem se falado dos negócios e novas opções de trabalho que a pandemia criou, contrastando ao desemprego gerado pela mesma. Porém, em um contexto nacional, existem algumas contas que são mais difíceis de fechar, argumentos que não se consolidam em explicações simplórias, que não fazem jus ao esforço praticado pelo trabalhador brasileiro, que ainda sofre pra manter sua família em boas condições nesse cenário.

Um dos setores que mais cresceu com a pandemia do coronavírus foi o delivery, que surgiu como opção sobretudo aos setores de alimentação e logística. E, aprofundando um pouco a questão sobre esse determinado setor, vimos há alguns dias a repercussão dos motoboys envolvidos em manifestações para melhores condições de repasse do valor correspondente às corridas realizadas, afirmando que as empresas detém a maior parte dos seus rendimentos com taxas que, muitas vezes, sequer são repassadas a esses profissionais.

Penso que, nessas horas, nosso papel de cidadão está em nos impor para entender e cobrar a quem for de direito soluções para melhorar as condições de trabalho daqueles que, por sua vez, estão correndo riscos de se contaminar, saindo cedo e voltando tarde para ganhar uma renda – talvez a única – que sustentará sua família por mais alguns dias e meses dentro dessa incerteza que estamos vivendo.

Outro ponto que estamos vendo com certa frequência é o fomento a startups, negócios com foco em tecnologia e desenvolvimento de empresas cada vez mais focadas em solucionar problemas da nossa sociedade. O problema é que isso tem sido ofertado, ou pelo menos conduzido aos bairros com mais condições financeiras.

Não vemos um incentivo ou evento que fomente a produção de conteúdo e boas ideias em periferias. De lá, tenho certeza que saem boas ideias, porém, por falta de estímulo, não se desenvolvem, por talvez não oferecerem o que os empresários e investidores tanto prezam, que são os retornos sobre o que se está investindo no momento.

Precisamos estimular a igualdade de condições que permeiam esses novos postos de trabalho. Se o cenário vem se reformulando, precisamos agir de forma propositiva, nos fazendo pensar em soluções que agreguem a todas as classes sociais, e não às classes mais privilegiadas.

Quando se trata de Salvador, esse cenário é ainda mais preocupante, por já termos historicamente uma população mais pobre. Então, o que fazer? Deixar esse abismo ficar ainda maior? Ou, de repente, ir criando musculatura pra defender os interesses daqueles que são maioria em nossa cidade?

Me sinto na obrigação de levantar esses pontos, para que possamos não só refletir, mas começar a atuar em cima do que pode ser tratado como solução para essa dificuldade que estamos enfrentando. Essas ações, com certeza, farão diferença em novembro, quando teremos que escolher os representantes que nos conduzirão a dias melhores daqui pra frente.

Pelo menos, assim espero. Para o melhor da nossa Salvador.

*Jayme Neto
Publicitário e Empresário

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