Vazamento em tanque contaminou cervejas da Backer, diz Polícia Civil

Um vazamento liberou dietilenoglicol nas cervejas produzidas pela Backer. Cinco meses depois, foi essa a conclusão da Polícia Civil de Minas Gerais ao investigar os casos da síndrome nefroneural, doença provocada pela ingestão da substância tóxica. Os resultados foram apresentados nesta terça-feira no auditório do Departamento de Trânsito (Detran), em Belo Horizonte.

O resultado do inquérito foi apresentado pelo delegado Flávio Grossi, à frente dos trabalhos, e o superintendente de Polícia Técnico-Científica, o médico-legista Thales Bittencourt.

Flávio Grossi explicou que a apuração foi multiprofissional, envolvendo químicos, engenheiros e peritos. Primeiro, foi preciso entender como a cerveja é feita. “O malte é levado para um processo que leva o mosto. O mosto é resfriado e é levado por tubulações ao tanque. O tanque é resfriado com líquido anticongelante e, posteriomente, embalado para consumo. Ele resfria os tanques de forma que não haja vazamento: é uma grande geladeira chamada de chiller”, detalhou.

O vazamento que contaminou as cervejas foi identificado justamente no chiller. “O líquido jorrava e se misturava com a cerveja”, informou. “Além do vazamento do chiller, havia outros pontos de vazamentos pela fábrica”. Em janeiro, a Polícia Civil já havia constatado a presença do dietilenoglicol no chiller. Segundo Flávio Grossi, houve falha na solda do tanque, adquirido pela empresa no fim do ano passado.

Onze pessoas serão indiciadas por lesão corporal, homicídio e intoxicação, segundo a Polícia Civil.

Substâncias não poderiam ser usadas

“No início das investigações, como nós não podemos fechar hipóteses, havia até a possibilidade de contaminação dolosa para o aumento da produção, por exemplo, como havia também a possibilidade de contaminação por sabotagem. Conseguimos concluir que na verdade ocorreram crimes culposos no que tange a contaminação”, detalhou o delegado Flávio Grossi nesta terça-feira.

Ele explica que não é possível responsabilizar os proprietários da cervejaria pela falha na solda do tanque, mas o ponto é o uso do dietileno ou monoetilenoglicol na produção. “Esse vazamento fisicamente ocorreu porque havia um furo no tanque no alinhamento da solda. A questão a se destacar não é a ocorrência do vazamento: é o uso de uma substância tóxica dentro de uma planta fabril destinada a alimentação. Ela não poderia ocorrer”, enfatiza. “Bastaria uma simples leitura de três linhas para saber que aqueles equipamentos deviam funcionar com anticongelantes não tóxicos, como álcool”, disse o delegado.

No início das investigações, a Backer informou que não usava dietilenoglicol na produção, mas o monoetilenoglicol, também tóxico. O produto era adquirido de um fornecedor. Durante as investigações, foi encontrado um tambor na área de descarte onde se lia “mono”, de 2018.

No entanto, dentro dele havia dietilenoglicol. Foram analisados 10 tambores com a substância, sendo que havia nove com mono e um com dietilenoglicol. “Havia um hábito produtivo de uso daquela substância. Confesso que haveria uma necessidade de aferição quanto ao consumo daquele produto, porque existiam vazamentos. Eu demonstro visualmente em 2020 e comprovo matematicamente nos anos anteriores”, afirma Flávio Grossi. “O uso incorreto do equipamento usando substancia tóxica e o descontrole. Se alguém interrompesse essas duas condutas, nada ocorreria”, pontuou.

Nota da Backer

Por meio de nota a assessoria da cervejaria mineira disse que “reafirma que irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores”. Sobre o inquérito policial, a Backer informou que “tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente”. (EM)

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