Baiano vence coronavírus após quase três meses internado: ‘foi milagre’

Superação. Milagre. Não há palavra que descreva com precisão o sentimento de Luis Artime Freitas de Oliveira, 51, um dos 20 primeiros baianos infectados pelo novo coronavírus, ao sair do hospital curado. Por causa das complicações da doença, o engenheiro civil ficou três meses internado, dois deles na UTI do Hospital Aliança, com respiração mecânica.

“A alta dele representa uma das maiores vitórias da minha carreira enquanto infectologista e é a maior que eu presenciei nesse combate ao coronavírus”, diz o médico Adriano Oliveira, que acompanha Artime desde o dia que foi internado, em 13 de março. Adriano viu os momentos em que o doente ficou entre a vida e a morte, lutando para vencer as cinco infecções que tomaram conta do seu organismo no período em que ficou entubado.

O médico também esteve presente na saída de Artime do hospital, o que só foi acontecer nesta quarta-feira. “Eu agradeço o acolhimento e a dedicação de todos os funcionários do hospital. Tudo foi feito quando não se tinha mais nada para fazer. E isso mudou pouco a pouco o rumo dessa história. Só tenho a agradecer ao Senhor por vocês”, disse Artime, em vídeo gravado na saída do hospital.:

“Quando o paciente deu entrada no hospital, ele apresentava febre e dores articulares, mas sem tosse ou sintomas característicos de gripe. Fizemos o exame e identificamos uma pneumonia. O quadro piorou rapidamente”, disse o médico. Artime se tornou o primeiro paciente do Hospital Aliança entubado por causa do coronavírus, o que aconteceu dois dias após sua internação. Na época, a principal suspeita de médicos e familiares era que se tratava de infecção bacteriana.

Artime não teve contato com alguém infectado ou viajou para local de risco. Na época, só eram identificados casos da doença em pessoas com esse perfil. Mesmo assim, quatro dias após a internação, o exame de coronavírus foi feito, graças a insistência da esposa, Rita de Cássia, que é amiga de um pesquisador baiano que tinha equipamento de testagem. No mesmo dia, 17 de março, saiu o resultado positivo. Dois dias depois, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) confirmou os primeiros casos de transmissão comunitária.

Na ocasião, Artime já estava num dos leitos de isolamento com suporte ventilatório exclusivos para casos de coronavírus. Rita e os dois filhos tiveram que ficar isolados em casa por 15 dias. Dos três, ninguém contraiu a doença. Segundo o infectologista Adriano Oliveira, a doença viral causada pelo novo coronavírus dura, em geral, 14 dias no organismo: “O que mantém o paciente por mais tempo no hospital são as sequelas. O doente entra em tal processo inflamatório que surge a necessidade de outros procedimentos”.

A Sesab não possui um dado consolidado com a média de dias que pacientes precisam ficar internados nos hospitais baianos. No caso de Luís Artime, o médico atribui sua longa permanência às cinco infecções graves que ele pegou durante a intubação: “A primeira foi uma infeção na corrente sanguínea causada por uma bactéria. A última foi por culpa do fungo candida parapsilosis. Tivemos que tratar as infecções uma a uma”.

“Quando se usa muita sonda, cateter e intubação, ao mesmo tempo em que controla a situação do paciente, favorece o surgimento de infecções. O caso dele era gravíssimo e a expectativa do evento letal era concreto”, completa Adriano. A situação chegou a tal ponto do hospital anunciar à família que o paciente estava, provavelmente, nas suas últimas horas de vida. “Era um pavor pensar que ele poderia morrer e eu não iria me despedir do meu marido”, disse Rita de Cássia. (Correio*)

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