Pandemia acaba com 1,1 milhão de empregos com carteira assinada no país

A operadora de caixa Letícia Barbosa, de 30 anos, perdeu o emprego assim que a crise do novo coronavírus provocou o fechamento do comércio. Sem poder receber clientes, a livraria em que trabalhava ficou sem condições de pagar todos os funcionários. Letícia não é a única a ficar sem trabalho e renda desde o início pandemia. Apenas em março e abril, mais de 1,1 milhão de empregos formais foram fechados no Brasil, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

O Caged estava desativado desde dezembro de 2019, mas voltou a ser atualizado ontem pelo Ministério da Economia, revelando o impacto do coronavírus no mercado de trabalho brasileiro. Segundo o indicador, 240 mil postos de trabalho formais foram fechados no Brasil em março e mais 860 mil desligamentos foram registrados só em abril. Foi o pior resultado mensal de toda a série histórica do Caged. “É um número duro, que reflete a realidade da pandemia que vivemos”, comentou o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco.

Em abril, mês que recebeu em cheio todo o impacto da disseminação da covid-19 pelo país, o Caged registrou o desligamento de 1,459 milhão de empregados formais em abril — um aumento de 17,2% em comparação com o mesmo período do ano passado. Já as contratações desabaram 56%, somando apenas 598,8 mil.

“Até março, as contratações eram superiores às do ano passado. A partir de abril, houve um mergulho muito profundo nas admissões. Mas não é nenhuma surpresa, porque com o comércio e a indústria fechados, é natural que não haja novas admissões”, afirmou o secretário de Trabalho, Bruno Dalcolmo.

Só que o mergulho foi tão profundo que não só levou abril deste ano ao ponto mais baixo da série histórica do Caged, como consumiu todo o estoque positivo acumulado antes da pandemia. O cadastro registrou saldo positivo de 113,1 mil empregos em janeiro e de 224,8 mil em fevereiro. Ao fim de abril, o indicador contabiliza o fechamento líquido de 763,2 mil vagas com carteira assinada.

Letícia disse que até tentou encontrar outro emprego depois de ser demitida, em abril, mas, até agora, não encontrou nenhuma oportunidade. “O que consegui foram três meses de seguro-desemprego, mas minhas finanças estão indo de mal a pior”, lamentou. A revisora de textos Beatriz Siqueira, de 25 anos, também teve que recorrer ao seguro-desemprego depois que entrou na fila de desempregados, no mês passado, quando a demanda da empresa em que trabalhava caiu abruptamente.

Bruno Bianco não avalia o resultado do Caged inteiramente de forma negativa. Ele alegou que a destruição de vagas poderia ser muito maior, caso o governo não tivesse oferecido aos trabalhadores e às empresas alternativas de flexibilização do contrato de trabalho durante a pandemia. “Ao passo que as admissões tiveram uma queda forte, as demissões não tiveram uma explosão, como os especialistas previam e como aconteceu em outros países”, reforçou Bruno Dalcolmo.

Especialistas dizem, contudo, que o desemprego pode crescer mais nos próximos meses, mesmo com a MP 936 garantindo estabilidade de até três meses para os trabalhadores que aceitaram reduzir salários ou suspender os contratos de trabalho. Afinal, a retomada econômica pode não ser tão rápida quanto o governo espera. “E é muito caro para um empreendedor contratar via CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)”, lembrou o economista Filipe Fernandes, indicando que o Brasil pode demorar a recuperar as vagas perdidas. Há quem diga até que o total de desempregados possa sair dos atuais 12 milhões para mais de 15 milhões no Brasil neste ano.
(Correio Braziliense)

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