Aumenta preocupação no governo, após Moro ter confirmado denúncias à PF

O depoimento do ex-ministro Sergio Moro na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, foi tão longo que precisou ser interrompido pelo menos uma vez. Os esclarecimentos começaram no início da tarde e se estenderam pela noite. Moro respondeu perguntas de dois delegados da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e de três procuradores que saíram de Brasília e foram até o Paraná para participar da oitiva. O ex-ministro chegou ao prédio da PF em uma viatura da corporação e entrou por acesso privativo, que fica nos fundos do edifício. Ele detalhou as acusações contra o presidente Jair Bolsonaro, afirmou que o chefe do Executivo atuou mais de uma vez para tentar interferir no comando da corporação e solicitou acesso a informações das quais não poderia ter conhecimento, pois não era parte nos inquéritos investigados.

A oitiva se estendeu por tanto tempo que um intervalo precisou ser realizado no fim da tarde. À noite ocorreu mais uma pausa para lanche, com a retomada do depoimento em seguida. Na sala, Moro e os demais integrantes estavam afastados por uma distância de um metro cada um, e todos usavam máscara para se proteger do novo coronavírus.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, destacou para a oitiva os procuradores João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita, que atuam no gabinete dele na capital federal. Apoiadores de Moro e do presidente Jair Bolsonaro se enfrentaram em frente ao prédio da corporação. Nos momentos mais hostis, a Polícia Militar precisou intervir. Um manifestante que estava do lado favorável ao presidente chegou a tentar agredir jornalistas, sendo contido pela polícia.

O depoimento de Moro deve ser encaminhado ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que apura as denúncias feitas contra Jair Bolsonaro. O conteúdo pode ser mantido sob sigilo se a PF entender que esse ato é necessário para preservar a investigação. Nos próximos dias, Celso de Mello deve determinar o cumprimento de diligências para recolher provas e informações para averiguar as denúncias.

No governo, o clima foi de apreensão ao longo de todo o dia. O presidente Jair Bolsonaro tentou demonstrar que não estava preocupado com assunto. No entanto, ao longo de todo o dia conversou com aliados e com os filhos, para avaliar eventuais impactos das revelações. Interlocutores do Planalto informaram que o maior temor é de que ao longo dos últimos meses, Moro tenha registrado diversas conversas com o presidente, não só por mensagens de texto, mas também em áudios e vídeos.

A deputada Bia Kicis (PSL-DF), afirmou que entrou em contato com o presidente no meio da noite, e recebeu dele, a informação de que estava enfrentando a situação com tranquilidade. “Acabei de falar com o presidente Jair Bolsonaro. Ele está tranquilo. Sabe que nem em 15 meses de conversa gravada e nem que fossem 15 anos, Sergio Moro teria alguma coisa contra ele. Talvez uns palavrões, quem sabe, mas acho que isso não é crime, a não ser que o STF resolva criar um”, declarou a parlamentar.

Defesa
Para atuar em sua defesa, Sergio Moro contratou Rodrigo Sánchez Rios e outros 3 advogados. Conhecido criminalista de Curitiba, Sánchez é secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Paraná. Ele já atuou em casos da Lava-Jato em que o próprio ex-ministro da Justiça era o juiz da causa. Entre o rol de clientes do defensor no âmbito da Lava-Jato está o ex-deputado Eduardo Cunha, que foi presidente da Câmara.

Sánchez também atuou na defesa do empresário Marcelo Odebrecht, uma das figuras mais marcantes do caso Lava-Jato, e ex-presidente da empreiteira que leva seu sobrenome e esteve profundamente envolvida no esquema de desvio de recursos da Petrobras. O defensor de Moro é graduado em Direito pela Universidade Federal do Paraná, desde 1987.

‘Motivação política’ Em apoio ao presidente, o filho e deputado Eduardo Bolsonaro (SP) afirmou que o ex-ministro “certamente tem motivações políticas” ao denunciar supostos atos ilícitos no governo. “Fica bem claro que o Moro que combateu a criminalidade, o Moro que combateu a corrupção na Lava-Jato merece os nossos aplausos. O Moro político deixou a desejar”, disse Eduardo em transmissão ao vivo nas redes sociais, no final da tarde de ontem. Durante a live, Eduardo criticou Moro por alegar que ele foi o responsável por incluir, em janeiro de 2019, a previsão de cofre em alguns casos para a posse de armas – ponto que acabou sendo modificado. (EM, com agências)

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