Educação antirracista tem papel fundamental no combate à discriminação racial

Em uma sociedade estruturada pelo racismo, pensar na educação pode ser uma das formas mais eficazes de combater a discriminação racial. Diversos relatos de pessoas negras dão conta de expor que é no ambiente escolar onde acontecem as primeiras experiências com o racismo, seja a partir de comentários e ofensas direcionadas a características negras, como o cabelo crespo, a cor da pele e os traços do rosto; ou através da ausência de diversidade no modelo educacional, onde muitas vezes os autores negros e as questões étnico-raciais estão ausentes nas referências dadas em sala de aula.

“A escola é um espaço de formação de cidadania, o primeiro lugar onde socializam fora de seus ambientes familiares. É um lugar onde historicamente pessoas negras foram vítimas de racismo de forma muito direta e dolorosa. Lembro-me na minha época, durante os anos 80 e 90, o que foi para uma menina negra frequentar esses espaços. Os professores e professoras não tinham o menor preparo para lidar com o tema e já na infância as pessoas reproduziam racismo, com o qual seguiram em sua vida adulta”, explicou, em entrevista ao Portal A TARDE, a filósofa e ativista, Djamila Ribeiro, autora dos livros ‘O que é lugar de fala?’ e ‘Pequeno Manual Antirracista’.

Segundo Djamila, que é um dos nomes mais conhecidos quando se fala em ativismo negro no Brasil, a educação antirracista nas instituições de ensino tem um poder transformador e é algo que deve perpassar não apenas o estudante, mas os professores e professoras, diretores e diretoras de cada instituição. Ela afirmou que é preciso entender o ensino público como um projeto de precarização de estudantes pobres e negros do país.

“As intersecções que atravessam a identidade colocam a população negra brasileira como maioria da população pobre. Muita gente é pobre, porque é negra, já que houve um projeto histórico desde a colonização em marginalizar pessoas negras de acessos a serviços dignos, inclusive o ensino”, pontuou.

Para a deputada estadual (PCdoB), pedagoga e militante do movimento de mulheres negras, Olívia Santana, o papel dos educadores é estabelecer a mediação, instaurar a reflexão e, portanto, assumir uma atitude educativa antirracista. Para isso, segundo Olívia, é preciso que esses educadores estejam preparados e prontos para problematizar situações de conflito nas escolas.

“É preciso essa perspectiva de educar para emancipar dessa questão que é tão arraigada a nossa formação cultural que é o racismo. Tem que investir em formação de professores, garantir nas escolas um ambiente que dialogue e mostre que o racismo é crime, mas não só nessa perspectiva da criminalização e punição, mas, sobretudo da valorização do papel da população negra, trazer referenciais positivos para aquelas crianças e jovens”, afirmou, citando que é preciso abordar as figuras de intelectuais negros, extrair trechos do pensamento desses estudiosos e levar para a sala de aula.

Surgido em julho de 1992, o Instituto Cultural Steve Biko, localizado no bairro Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, percebe a necessidade de se atentar à educação antirracista, pensando no acesso dos jovens negros às universidades. Com iniciativas como o curso pré-vestibular, o programa de fomento à ciência e tecnologia OgumTec e intercâmbios, a instituição desenvolve, a partir da ancestralidade negra e cosmovisões africanas, um modelo de educação que possibilita o olhar para outros atores sócio históricos que construíram o Brasil.

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