Susy, detenta que comoveu Drauzio Varella, foi condenada por estuprar e matar criança

A mulher trans abraçada por Dr. Dráuzio, no Fantástico da semana passada, está presa. Por mim, passaria o resto da vida assim, se de fato cometeu os crimes que lhe são atribuídos. De preferência, na mais absoluta solidão. Não tenho qualquer empatia por assassinos/as e estupradores/as de crianças, sejam essas pessoas cis, trans, homens ou mulheres. Não tenho condições para carreira jurídica, não gostaria de ser responsável pelo julgamento de alguém que estuprou e matou um garoto de nove anos. Não ia prestar, não. Só que não se trata disso.

Não questionei o que levou Suzy à cadeia, enquanto assistia ao Fantástico. Na belíssima reportagem, isso não vinha ao caso. Também não senti vontade de escrever cartinha amorosa, para uma detenta desconhecida. Além de eu não ser esse tipo de pessoa “fofa”, a proposta ali era outra. Dr. Dráuzio sabe trabalhar, assim como a equipe que o dirige, produz e edita. Um homem cis, hetero, bem-sucedido e de excelente reputação oferecendo afeto a uma representante da “escória” da nossa sociedade, causaria, inevitalmente. Aquele abraço daria visibilidade ao tema da reportagem que fala precisamente do abandono e solidão que sofrem as mulheres trans, no sistema penitenciário. Assunto necessário. Talvez devessem ter escolhido uma personagem de crime mais leve, se de fato ela é uma estupradora e assassina. Mas a estratégia funcionou. Ainda que por um caminho conturbado.

A opinião pública foi investigar a presidiária e isso, mais uma vez, “levantou panos”. Não os que cobriam Suzy, uma condenada, mas os que nos vestem, coletivamente, de “pessoas de bem”. É esse o fato. O resultado da investigação só desvia o foco. A presidiária não está sem visitas há oito anos por ser estupradora e assassina, se de fato fez essa barbaridade. Ela está sozinha porque é uma mulher trans e, nesse aspecto, tanto faz ser uma assassina ou ladra de galinhas, basta observar outros casos que se chega a essa conclusão. A incansável investigação, a publicação dos crimes supostamente cometidos, acontecem pelo mesmo motivo. Não vejo presidiários homens sendo investigados e tendo seus crimes divulgados, depois de reportagens que contam “como se casaram na prisão” por exemplo, apesar de essas narrativas de louvação à reconstrução de vida serem bastante comuns. Quando os crimes deles aparecem, normalmente estão no lugar de “passado” e sempre tem alguém para dizer que ele “já pagou”, “está pagando” ou que “ninguém pode julgar”.

Hierarquização de gênero, o nome é esse. Também na “sede de justiça” popular. Quero ver Suzy ter respeitado o “direito de reconstruir a vida”, quando sair da prisão. Porque isso é tão garantido pra ela quanto, por exemplo, pro assassino Bruno que segue sendo chamado de “goleiro”, tirando fotos com fãs e negociando com clubes, de boinha. Poucas são as vozes que discordam da idolatria desse criminoso e majoritariamente femininas. Ele, que matou a mãe do próprio filho e ofereceu o corpo como alimento aos cães. Ele que continua sendo uma assombração para o filho e para a avó, mãe da vítima, que cria o menino. O assassino Bruno é super digerível. Suzy não. ( Correio*)

Foto: Reprodução/TV Globo

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