Xuxa recorria a fone de ouvido e apertos de mão para alcançar o ritmo em suas canções

Assumidamente não cantora, Xuxa recorria a orientações em fone de ouvido e apertos de mão para conseguir alcançar o ritmo em suas canções. O pai da cantora Céu, Edgar Poças, é um dos compositores da MPB responsáveis por alguns dos principais hits para crianças. Essas e outras peculiaridades dos bastidores da música infantil serão reveladas no 6º episódio da série de TV História Secreta do Pop Brasileiro (fotos | divulgação). O programa vai ao ar nesta sexta-feira, dia 15, às 22h30, no canal por assinatura Music Box Brazil.

A música infantil se desenvolveu sob demanda no Brasil entre as décadas de 1970 e 1980 para atender público desprezado, mas fiel e numeroso. Lojas foram invadidas por discos de Xuxa, A Turma do Balão Mágico, A Patotinha, Trem da Alegria, Chispitas, Bozo, Atchim e Espirro, entre outras dezenas de nomes. A indústria nacional teve influência direta de mercados já consolidados, entre eles Argentina, México, Espanha e Itália. Para criar obras originais e versões em português, as gravadoras contrataram compositores da MPB e Bossa Nova.

Dois desses profissionais que tiveram êxito no trabalho para crianças são Michael Sullivan e Paulo Massadas. A dupla contribuiu para os cerca de 20 milhões de discos que a Xuxa comercializou no país, Europa e América Latina. A parceria começou no álbum ‘Xou da Xuxa’ (1986), rendeu sucessos como ‘Brincar de Índio’ e ‘Parabéns da Xuxa’ e fez com que a gaúcha superasse vendas de Roberto Carlos e Julio Iglesias no Brasil. A série mostra que essa popularidade é um case clássico da fabricação intencional por qual a música infantil brasileira passou.

Massadas reconhece: “De fato, ela não cantava. A gente deu um jeito”. Ele justifica à série. “Comentei com Sullivan, essa mulher pode ser a próxima Rita Lee. Ele disse ‘tu tá maluco. Ela nem canta’. Quando vi a presença e o carisma, eu disse que não tinha jeito de segurar essa mulher”. Para o profissional, a sinceridade foi uma aliada ao sucesso da artista. “O grande trunfo da Xuxa é ela saber o que ela não sabe. Quando ela afirmava que não sabia cantar, ela não era uma idiota crônica que por ser famosa, ia dizer que sabia cantar”, defende.

Ainda ao filme, Paulo detalha o modo assertivo e que não chamou a atenção dos súditos, para Xuxa exercer a função. “Ela botava o fone. O que ela estava ouvindo enquanto cantava? A minha voz. Ela tentava sair atrás de minha voz. Ao mesmo tempo, eu pressionava as mãos dela para dar o ritmo”, detalha. As apresentações ao vivo também tinham estratégia envolvida. “Quando era uma coisa para entrar, eu fingia que era uma dupla sertaneja e chegava junto com ela, como se eu fosse cantar, mas só que eu não cantava. Era só a voz dela”, lembra.

Outro personagem entrevistado pela série é o talentoso Edgar Poças, que acumula diversas composições infantis, sendo a maioria delas versões brasileiras de sucessos estrangeiros. Poças não tinha experiências com músicas para crianças. O amigo de Vinicius de Moraes atuava para Bossa Nova e MPB, além de compor jingles publicitários. Certo dia, Edgar recebeu ligação da gravadora CBS pedindo para que ele ajudasse sigilosamente a montar o repertório e arranjos para um superpop grupo infantil A Turma do Balão Mágico.

À série, Edgar Poças revela sua ideia original na letra de ‘Superfantástico’. “Eu imaginei o Roberto Carlos. ‘Ei Roberto, que legal se você viesse no nosso balão’. Eu falei ‘arrasou’. Assim que ia ser. Comecei a pensar que Roberto podia não gostar ou não querer”. A filha então inspirou o pai compositor chegar ao resultado final. “Fui no quarto da Céu e ela tinha um bonequinho que parecia o Djavan. Eu falei ‘Ei Djavan, que legal se você se agradar de nossa canção’. Falei que ia ficar bom. Mas se ele não cantar? Daí eu já botei superfantástico”, lembra.

A série de TV História Secreta do Pop Brasileiro é baseada no livro Pavões Misteriosos (Editora Três Estrelas, 256 páginas, 2014), escrito por André Barcinski, que assina roteiro e direção da obra audiovisual. Produzida pela Kuarup com narração do cantor e compositor tropicalista Arrigo Barnabé, o filme desvenda em oito episódios temáticos o pop brasileiro das décadas de 1970 e 1980.

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