O que o Centro da cidade te diz? Por Fagna Santos*

Do romantismo de antigamente sobrou pouco, os casarões com fachadas decoradas abriu espaço para o capitalismo acirrado, o quem dá mais desacerbado, ganhando o freguês no grito. Mas, se olhar direitinho, ao andar pelas ruas centrais de Salvador você encontra poesia no caos. É uma tarefa proveitosa, mesmo que a olho nu não pareça.

De um lado da calçada cada vez mais apertada, o grito de promoção saindo de uma caixa de som ecoa, convidando os passantes pra entrar. Do outro lado, o tabuleiro da baiana ferve seu dendê exalando cheiro, aguçando o desejo e a fome de quem passa.

Ao lado do lojão barulhento fica uma casa de instrumentos musicais, que por sua vez segue em seu mórbido silêncio, pra não incomodar a vida do apressado que segue sua busca. Mas se de repente precisar de um remédio pra curar desde uma dor de cabeça até uma “espinhela caída”, o vizinho ao lado é uma farmácia popular que não encontrou ponto melhor pra atender seus clientes.

O centro da cidade não é somente o apelo comercial. Apure o olhar e olhe pra cima, isso mesmo. Veja que mesmo com todo desgaste do tempo, os casarões e prédios antigos seguem na jornada, resistindo na missão de retratar a história da nossa gente.

Sugiro que faça uma parada na Praça da Piedade, temos o Gabinete Português de Leitura uma pérola em meio ao caos. Você já deve ter passado várias vezes e não deve ter percebido aquele senhor ali, cheio de idade, secular, carregado de beleza e capricho. Aproveite e entre em uma das igrejas e contemple sua calmaria, faça uma prece.

Pra terminar sua caminhada no quarteirão, entre na galeria Politécnica e fique observando o relógio de São Pedro de cima. Veja a nossa história se repetindo, o que antes era ponto de encontro da sociedade baiana, hoje continua sendo com uma nova configuração, trabalhadores lutam pela sobrevivência. Isso tem dado uma nova cara ao lugar, transformando em um verdadeiro restaurante a céu aberto.

Observe a mistura de sons, os cheiros que nos diferencia, nossas cores vibrantes, se encante com a beleza que faz ferver o comércio popular da nossa cidade.
*Eu sou @fagnasantoss, jornalista, descobrindo Salvador.

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