Diagnóstico precoce e seguir recomendações médicas de forma adequada evitam a cegueira pelo glaucoma

A visão é responsável por 90% da comunicação com o mundo exterior, sendo extremamente importante na formação do interior dos indivíduos. É por esse motivo que o medo da cegueira é suplantado apenas pelo temor de ter um câncer incurável. No entanto, nos Estados Unidos, 30% dos pacientes deixam de usar a medicação três meses depois de diagnosticados e quase 70% dos demais se esquecem de pingar o colírio no horário correto ou não lembram um ou mais vezes de fazê-lo.

É importante que se tenha conhecimento de que a visão perdida pelo glaucoma não será mais será recuperada, apesar de todo o conhecimento científico disponível atualmente. Recentemente (2014), nos Estados Unidos, na Clínica Mayo, foi apresentado um estudo, mostrando que 15% dos pacientes tratados de glaucoma ficaram cegos, em 6 anos, de pelo menos um olho.

No mundo, existem aproximadamente 11 milhões de pessoas cegas de ambos os olhos e 20 milhões cegas de um olho em decorrência do glaucoma. Segundo a OMS, a cada ano, são registrados 2,4 milhões de novos casos no mundo. Porém, graças aos conhecimentos adquiridos nos últimos anos, a cegueira por glaucoma é evitável na grande maioria dos casos – se não em todos –, desde que diagnosticada precocemente e tratada corretamente.

O Prof. Remo Susanna Jr., Titular do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da USP explica que “para evitar a cegueira provocada pelo glaucoma é necessário conhecer os motivos mais frequentes que, de forma isolada ou conjunta, são responsáveis por quase todos os casos de perda de visão ocasionados pela doença”. O médico enfatiza que, com estes conhecimentos, os pacientes serão capazes de interagir de modo mais eficaz com seu médico e estabelecer com ele uma parceria indispensável para o controle do glaucoma.

O glaucoma ocorre em 2% dos pacientes brancos e em 7% negros com mais de 40 anos, acometendo 3,5% dos brancos e 12% dos negros com mais de 70 anos. Com o aumento da expectativa de vida da população mundial, esses números serão ainda maiores no futuro próximo. “Estima-se que pessoas com histórico familiar da doença tenham entre seis e dez vezes mais chances de desenvolvê-la”, esclarece o Prof. Remo Susanna Jr., membro do conselho executivo e ex-presidente da Associação Mundial de Glaucoma.

O glaucoma é conhecido como sinônimo de pressão alta no olho. O professor da FMUSP alerta que “esse conceito errôneo persiste até os dias de hoje, sendo uma das principais causas do não diagnóstico e do tratamento inadequado da doença. Além disso, partindo dessa premissa incorreta, o paciente é levado a acreditar que, se sua pressão ocular estiver normal, a doença encontra-se controlada”.

O Prof. Remo Susanna Jr. Esclarece que “o glaucoma é caracterizado por lesão do nervo óptico, acompanhada ou não de pressão ocular elevada e de defeito de campo visual. Assim, a pressão ocular é considerada o maior fator de risco do glaucoma, mas não pode ser vista como sinônimo da doença”.

Segundo o docente, a medida isolada da pressão ocular, como em geral é feita, é extremamente falha para estimar as variações de pressão que o paciente apresenta durante o dia. “Soma-se a isto o fato das pessoas não procurarem os oftalmologistas, principalmente a partir dos 40 anos, quando a doença é mais comum por não sentirem dificuldade em enxergar. O glaucoma é assintomático até suas fases mais avançadas e, portanto, somente o oftalmologista poderá detectá-lo”, enfatiza o médico.

O controle inadequado ou subótimo da doença poderá levar à progressão da mesma, e, quanto mais avançado for o glaucoma, mais baixa terá que ser a pressão alvo para o controle e maiores serão as chances de o paciente perder a visão. A severidade da doença também determinará a frequência das consultas e seus intervalos. Em alguns casos, a intervenção cirúrgica é necessária para obter pressões compatíveis com a gravidade do glaucoma.

Recentemente, o Prof. Remo Susanna Jr., publicou dois artigos que tiveram elevado impacto no meio científico. O primeiro em parceria com os professores Robert Ritch, diretor da Universidade de New York (NYU), Jack Cioffi, diretor da Universidade Columbia, e Gustavo de Moraes, diretor de pesquisa e professor associado da Universidade de Columbia, também em New York. O segundo, um dos 20 artigos mais baixados da revista nos últimos 20 anos, foi escrito em parceria com o Prof. Ivan Goldberg, da Universidade de Sidney, na Austrália.

Esta linha de pesquisa desenvolvida pela USP também foi de grande importância para a comunidade científica mundial, resultando em mais de 60 trabalhos publicados por diferentes autores ao redor do mundo e quatro editoriais em revistas de impacto. Desta forma, o conhecimento na disciplina de oftalmologia foi alavancado em várias de suas subespecialidades.

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