Os cerca de 9 mil moradores de Ilha de Maré estão enfrentando uma grave contaminação das águas por metais pesados, com registro de diversos casos de câncer, sobretudo de estômago. A denúncia foi feita da Tribuna Popular da Câmara Municipal de Salvador, na sessão desta segunda-feira (12), por Marizelha Lopes, representante da Colônia de Pesca local.
“A Ilha de Maré, infelizmente, não é só beleza ou potencial turístico. Se existe contaminação na Baía de Todos-os-Santos, em Ilha de Maré, na Baía de Aratu, a situação é gravíssima. Temos pessoas morrendo pela presença de chumbo, cádmio e mercúrio, o que já denunciamos ao Ministério Público e até organismos internacionais”, frisou a pescadora. Ela classificou o descaso como um exemplo de racismo, “porque 90% da nossa população é formada por negros”.
Estudo feito pela Universidade Federal da Bahia em 2017, segundo Marizelha, constatou que todas as 116 crianças avaliadas estavam contaminadas por metais pesados, tendo como uma das consequências o baixo rendimento escolar. Em 2016 uma menina de 12 anos de idade, Adriana, morreu em decorrência de câncer nos ossos, diagnóstico também atribuído à contaminação.
Marizelha ressaltou que a Ilha de Maré, apesar de ser a mais próxima de Salvador, “é abandonada pelos poderes públicos”. E alertou que a produção de pescados abastece o mercado da capital: “O que estamos fazendo aqui é um pedido de socorro, estamos morrendo pela ganância do capital, que decidiu jogar o lixo químico de indústrias em Ilha de Maré. E a responsabilidade é de todos”.
Repercussão
Os vereadores Marcos Mendes (PSOL), Aladilce Souza (PCdoB) e Sílvio Humberto (PSB) se solidarizaram com a comunidade de Ilha de maré, chamando atenção para a gravidade da situação, identificada por eles como de racismo institucional.
“Quem vai pagar a conta pela irresponsabilidade de empresas como Suarez e Dow Química, que descartaram metais pesados na área, é o povo quilombola de Ilha de maré e da Ilha dos Frades. É a maior concentração de casos de câncer por metro quadrado do país”, denunciou Marcos Mendes. Confira entrevista:
