Música negra é destaque no Carnaval do Pelô em noite de abertura

Quem foi à primeira noite de Carnaval do Pelô, nesta sexta-feira (1º), percebeu que a folia sai na frente quando o assunto é diversidade. Desde a alegria contagiante em clima de carnaval das antigas com os desfiles de bandas e grupos de rua, ao repertório eclético dos microtrios e ritmos que foram do samba ao balanço do reggae nos largos do Pelô, não faltaram opções para curtir com segurança, comodidade e muita animação.

O palco principal, no Largo do Pelourinho, teve a presença marcante de diferentes gerações de cantoras negras que através da música preservam um legado de resistência e ancestralidade. A voz que abriu os trabalhos foi a da cantora Márcia Short, uma das figuras mais representativas do carnaval baiano. Embora tenha na bagagem a conta de 30 carnavais, destes, 25 no Pelô, esta foi a primeira vez da artista na abertura da folia. “Essa oportunidade vem coroar um desejo antigo. O Pelourinho é um camarote a céu aberto, tem segurança, tem conforto, tranqüilidade, comida, bebida, boa música. É o nosso camarote negro”, decretou a cantora.

A noite foi coroada também com a apresentação de um trio de mulheres que representam uma geração de cantoras, compositoras e instrumentistas do samba de roda do Recôncavo Baiano. Foram elas Maryzélia Santos, Dona Chica do Pandeiro e Mestra Ana, que levaram ao Largo do Pelourinho o projeto “Samba das Yabás”.

“Nós somos fruto de uma história de resistência, estar aqui é a prova disso”, diz Mestra Ana, que tem como referência principal, a cachoeirana e líder do grupo Samba Suerdieck, Dona Dalva, da qual é filha. O projeto foi idealizado pela cantora Maryzélia Santos, 43, que em novembro de 2019, completa 10 anos de carreira. “Elas foram as precursoras dessa luta. É uma história altamente negra e saber disso faz com que eu fortaleça ainda mais a minha verdade. O que eu sinto é gratidão pela oportunidade de estar aqui fazendo história ao lado delas”, assegurou a artista, que participa do Carnaval do Pelô há três anos, sendo esta a primeira vez no palco principal. Para encerrar a noite, o Largo do Pelourinho ainda recebeu mais uma cantora, Amanda Santiago, cantando grandes sucessos do carnaval baiano.

Sexta do samba

O samba também foi o protagonista da noite no Largo Quincas Berro d’Água. A primeira a comandar a festa foi a cantora Cláudya Costta, que subiu ao palco levando, principalmente ,o estilo samba reggae, nascido genuinamente nas ruas do Pelô. A apresentação mesclou também canções de antigos carnavais.

A segunda atração da noite foi Nonato Sanskey e Roda de Samba Mucum G’. O grupo, conhecido em Salvador pelas tradicionais rodas de samba do bairro do Garcia, fez a turma requebrar desde o início do show, o qual contemplou canções autorais e canções tradicionais do samba de roda e do samba duro baiano, estilos consagrados e que são bases de todo o trabalho desenvolvido pela banda.

Nostalgia

Os foliões presentes no Largo Pedro Archanjo nesta sexta-feira puderam matar a saudade dançando marchinhas de carnaval, frevo, sambas, marcha rancho, afoxé e axé. A noite começou com a Orquestra Sérgio Benutti, grupo com mais de 20 músicos, que se apresentou pela 5ª vez no Carnaval do Pelô. A orquestra traz uma proposta diferente que passeia pelas músicas clássicas e populares, proporcionando uma variação entre o antigo e o novo, permitindo ao público apreciar o moderno, mas sem deixar o saudosismo de lado.

A seguir, a banda Compassos e Serpentinas deu um colorido muito especial para a noite, o repertório tem como principal marca clássicos da MPB cantados no ritmo frenético do frevo e do Axé baiano. Eliene Lemos, 52, esteve com a filha Daniela Lemos no show. “A segurança e o ambiente do Pelourinho atrai quem não conhece a cidade e também aqueles que conhecem. “Balança o chão da Praça”, “Lança Perfume” e tantos outros sucessos, só é possível assistir com esse encanto aqui”, explica.

Reggae night

O primeiro dia de carnaval do Pelô também foi com muito reggae! A Banda JahWay, grupo que foi criado em 2013, se apresentou no Largo Tereza Batista trazendo grandes sucessos do gênero musical desenvolvido originalmente na Jamaica no fim da década de 1960, estimulando o circuito de quem procura curtir estilos alternativos no Centro Histórico. “Estamos aqui tendo oportunidade de nos apresentar no Pelourinho, mostrando que a Bahia é plural e que tem espaço pra todo mundo. Esse ambiente aberto pra essa mistura é muito bacana não apenas para as bandas, mas também para os baianos, para a Bahia e para cultura”, admite Adilmar Borges, vocalista da banda.

Carnaval de rua

Os tradicionais desfiles no vai e vem das ruas do Pelourinho, além da presença dos microtrios, também marcaram o início de folia no Centro Histórico. Nas ruas, foliões e atrações em todos os cantos da velha cidade se misturavam e formavam um bloco só. O Cortejão Cultural teve início no final da tarde, com a apresentação de várias bandas, acompanhadas de suas performances: Bandão do Farias, com o Grupo Paió de Rua, Orquestra Os Franciscanos (kutakintê) e Escola de Samba Unidos de Itapuã (Bandão). Teve também Varal de Cordel (Bandão, Koru Cia de Dança e Folia Mamulengo), além de Bandão Turma do Bassa (Bandão e Filó Brincante) e Oficina de Frevos e Dobrados (Bandão). Ainda foram vistos, no Terreiro de Jesus, os microtrios de Sylvia Patrícia & Tuk Tuk Sonoro, e Bloquinho Marana e o Faraó.

Mais Pelô

O sábado de carnaval ainda traz muitas atrações para o Pelourinho. O palco principal abre programação às 18h30 no clima do axé das antigas, com os cantores e compositores Manno Góes, Jorge Zarath e Tenison Del Rey no show Baile de Autor. Em seguida, às 20h30, as antigas marchinhas de carnaval ganham uma nova roupagem com a banda Bailinha de Quinta, que no projeto Sopro Elétrico se conecta com os talentos de Ivan Sacerdote e Morotó Slim. A programação se encerra em clima de festa com as Ganhadeiras de Itapuã comemorando 15 anos, ao lado de Seu Regi e Grupo Botequim, a partir das 23h.

Parah Monteiro (19h), Orquestra Compassos (21h30) e Gerônimo (0h) são atrações da noite no Largo Pedro Archanjo, que mais cedo recebe o primeiro de bailes infantis com o grupo Cadeiradebrim (15h30). O Largo Tereza Batista vai misturar o forró de Zelito Miranda (17h), o som mesclado de Carlos Pitta & Bando Anunciador (20h) e a batida percussiva de Pradarrum (22h30). Já o Largo Quincas Berro d’Água recebe Lateral Elétrica (18h), Chaveirinho do Arrocha (20h30) e, direto de Euclides da Cunha, o Grupo Circuladô (23h). A programação completa está disponível no site www.cultura.ba.gov.br.

Carnaval da Cultura

É o carnaval dos blocos afro, de samba, de reggae e dos afoxés, apoiados por meio do Edital Ouro Negro para desfilar nos três principais circuitos da folia: Batatinha, Dodô e Osmar. É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval do Pelô, que abraça o carnaval de rua, microtrios e nanotrios, além de promover nos palcos grandes encontros musicais e variados ritmos numa ampla programação. Tem Afro, Reggae, Arrocha, Axé, Antigos Carnavais, Samba, Hip-hop e Guitarra Baiana, além de Orquestras e Bailes Infantis. E é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. Promovido pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura (SecultBA), o Carnaval da Cultura é da Bahia. O Mundo se Une Aqui!

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