Universidade tem de formar para a liberdade, diz Pérez Esquivel

Aplaudido a todo momento por um auditório lotado, o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, de 1980, defendeu na manhã de hoje (18) uma educação superior comprometida com a liberdade e os direitos humanos em aula magna ministrada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Estudantes, servidores e professores ocuparam todo o auditório, ficaram de pé e sentaram no chão para ouvir as palavras do ativista que faz parte da história da defesa dos direitos humanos na América Latina.

“A universidade tem a capacidade de transmitir consciência crítica e valores e de formar homens e mulheres para a liberdade, e não escravos de um sistema. Esse é o desafio das universidades”, disse o argentino, que é professor da Universidade de Buenos Aires. “A universidade tem de ser rebelde frente às injustiças e ao sofrimento do povo. Temos de trabalhar para a vida e não para a morte”.

Pérez Esquivel lembrou da militância na época das ditaduras militares da América Latina, ao lado do arcebispo católico Dom Helder Câmara e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou como “um preso político”. “Lula não é um delinquente, é um preso político”, afirmou Esquivel, que viaja amanhã (19) para Curitiba, onde pretende visitar Lula na prisão.

O ex-presidente cumpre pena na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, após condenação de 12 anos e 1 mês por lavagem de dinheiro e corrupção no processo referente ao triplex em Guarujá (SP).

O Nobel da Paz também destacou intelectuais brasileiros como Paulo Freire, Frei Beto e Leonardo Boff. “Paulo Freire marcou muitíssimo quando desenvolveu a Pedagogia do Oprimido, com a educação como prática de liberdade, que levou a um movimento muito forte em todo o continente.”

O argentino afirmou à plateia que se considera um sobrevivente e, como tal, sente a responsabilidade de transmitir memória às novas gerações. “Os povos que não têm memória desaparecem.”

Pérez Esquivel defendeu que a democracia é uma construção que requer unidade e diversidade e voltou a avaliar que as democracias latino-americanas estão em perigo. “Não há democracia perfeita. Não somos uma sociedade de anjos, somos uma sociedade de homens e mulheres, com nossas luzes e sombras”, disse. Ele avaliou que é preciso ter democracias mais participativas e menos representativas.

O reitor da UFRJ, Roberto Leher, fez a abertura e o encerramento da aula magna e considerou que o dia foi histórico para a instituição. Em sua fala, o reitor defendeu que a universidade pública brasileira deve ser “profundamente comprometida com os direitos humanos”.

“O sentido da produção do conhecimento deve estar profundamente comprometido com a ética pública. Produzimos conhecimento para tornar a vida das pessoas melhor”, disse. “A produção de conhecimento a favor da vida traz tensões. E vivemos um momento de grande tensão no país, um momento de grande incerteza.”(Ag. Brasil) Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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