Artigo: O inesquecível Manoel Querino – por Leo Prates*

É preciso viver para contar a história. Mas também é necessário que esse registro sobreviva ao tempo para consolidar e perpetuar a memória, patrimônio cultural de um povo. O Selo Editorial Castro Alves tem esse papel e a Câmara Municipal de Salvador, está republicando duas obras de Manuel Querino, que estavam há mais de 100 anos fora do prelo: As Artes na Bahia, editada pela última vez em 1913, e Artistas Bahianos, em 1911.

Professor, jornalista, escritor, pintor, militante do movimento liberal e líder abolicionista, Querino foi pioneiro nas pesquisas etnográficas e estudos sobre história da arte no Brasil. Nascido em Santo Amaro da Purificação (BA), em 1851, ao longo da vida, elaborou e publicou obras relevantes para a construção de nosso acervo cultural, como Costumes Africanos no Brasil e A Arte Culinária na Bahia.

Estudante da Escola de Belas Artes, ele foi um dos fundadores do Liceu de Artes e Ofícios, além de membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Elegeu-se vereador de Salvador por dois mandatos no fim do século XIX, após participar da Liga Operária Bahiana, organizar o Partido Operário e defender os direitos trabalhistas.

A vida intensa e o gênio inventivo de Querino inspiraram Jorge Amado na criação do personagem Pedro Archanjo, do romance Tenda dos Milagres, de 1969. Com atuação entre o ocaso da Monarquia e o alvorecer da República, Querino registrou nas obras escritas suas impressões sobre esse período da história nacional, marcado por profundas transformações sociais e políticas.
Na área cultural, a mais estruturada contribuição de Querino pode ser atestada nos livros selecionados para reedição pela Câmara. Em As Artes na Bahia, ele traça um panorama da rica e diversa produção local, resumindo a inequívoca vocação do
nosso povo com a frase: “Aqui, todos nascem artistas”.

Fruto de minucioso trabalho de pesquisa, Artistas Bahianos traz um mapeamento de obras e biografias de profissionais das artes que atuaram em nossa terra entre os séculos XVIII e início do XX, nas áreas da pintura, engenharia, escultura, desenho, música, construção, arquitetura, marcenaria, gravura e carpintaria.

O labor abnegado de Querino para a conclusão do livro mereceu o reconhecimento do intelectual Torquato Bahia, que assina o prólogo do título. Para ele, o autor reivindica glórias legítimas ao nosso estado, “que sem hipérbole se pode ufanar, não só de ser berço de estadistas, guerreiros, oradores e poetas, mas também dos primeiros artistas brasileiros”.

Portanto, mais do que preencher uma lacuna editorial secular, a Câmara oferece uma contribuição histórica à preservação da memória cultural baiana. Com o relançamento de As Artes na Bahia e Artistas Bahianos, o Selo Castro Alves “semeia livros à mão cheia” e faz jus ao objetivo de acender luzes do passado para iluminar o presente em direção ao futuro.

* Leo Prates (DEM) é presidente da Câmara Municipal de Salvador

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