Automutilação afeta 20% dos adolescentes e pode estar associada a transtornos psiquiátricos

O ato de agredir o próprio corpo intencionalmente, mas sem o objetivo de suicídio, é chamado de automutilação ou autolesão não suicida, segundo o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V). Segundo estudos, a automutilação é mais prevalente em adolescentes e pode ter início por volta dos 13 anos.

Em um estudo norte-americano de 2011, constatou-se que 6% da população geral praticou pelo menos uma vez um ato de automutilação e 1% praticou por 10 anos ou mais. Outro estudo, que considerou apenas adolescentes em idade escolar, mostrou que 45% deles já havia praticado um ato de automutilação.

Segundo Thais Quaranta, psicóloga e neuropsicóloga, o comportamento de autoagressão tem um padrão de repetição. “As lesões são superficiais, na maior parte dos casos. Os cortes na pele são as mutilações mais frequentes. Podemos encontrar também queimaduras, arranhões e mordidas. Notamos ainda que braços e pernas são as partes do corpo mais atingidas pelas agressões, justamente por serem de fácil acesso, como também serem partes facilmente encobertas por roupas, já que quem pratica a automutilação não quer ser descoberto”, explica.

Frente a casos de automutilação, a pergunta que fica é: por que ferir a si mesmo? A resposta é bem complexa. Thais explica que a automutilação está ligada à incapacidade de lidar com os próprios sentimentos. “A adolescência é uma época muito difícil, cheia de dúvidas, medos e angústias. Ferir-se pode ser um modo de aliviar a tristeza e a dor emocional. Há jovens que buscam esse alívio nas drogas, nos games, no sexo, e outros na automutilação”, explica a psicóloga.

“Quando há um episódio de automutilação, há sempre fatores que acabaram desencadeando a crise, como rejeição social, perdas, problemas em casa, medo, raiva, entre outros sentimentos e situações”, explica Thais.

Por isso, os pais precisam estar atentos aos fatores de risco. Segundo Thais, as causas são multifatoriais, como insegurança, baixa autoestima, impulsividade, problemas na infância (negligência, abuso, estresse), dificuldades sociais (bullying), problemas familiares (pais divorciados ou ausentes), violência doméstica, entre outros. Por outro lado, a automutilação também é um dos critérios para diagnóstico de transtornos psiquiátricos, como transtorno boderline e depressão.

“Os conflitos emocionais da adolescência são constantes. Os pais precisam prestar atenção ao comportamento dos filhos e isso é uma tarefa diária. Notamos que nos dias atuais o tempo dedicado aos filhos diminuiu e isso tem um impacto profundo no desenvolvimento dos adolescentes”, afirma Thais.

Mas, segundo a psicóloga, é possível prevenir essas situações e a receita é simples: atenção, conversa e amor. “Os pais precisam dedicar mais tempo para os filhos, não importa a idade. Conversar, fazer as refeições juntos, perguntar sobre os problemas, medos e angústias. O maior presente que os pais podem dar aos filhos é a presença”, conclui Thais.

O diagnóstico da automutilação deve ser feito por um médico. O tratamento pode envolver o uso de medicamentos. Entretanto, é necessário fazer psicoterapia. A terapia cognitivo comportamental (TCC) é um tipo de psicoterapia efetiva que pode ajudar o paciente a evitar as crises e aprender a lidar com as emoções de uma forma mais saudável.

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